quinta-feira, agosto 06, 2020

Memórias dos Anos 70: Universidade parte II

Quando eu me matriculei para o vestibular eu tinha um plano quanto às várias bifurcações na faculdade: Engenharia - Elétrica - Eletrônica - Digital. Mas a verdade é que eu não tinha ideia do que ia fazer como Engenheiro Eletrônico Digital, foi com a Introdução à Ciência da Computação que eu descobri o que queria fazer.

Foi só recentemente que achei o livro texto em um sebo

Ok, o que vou falar aqui vai parecer sem sentido para os mais novos, que tiveram contato direto com computador desde criança. Então vou dar um pouco de contexto.

Apesar dos computadores já existirem quando eu nasci (duh!), o contato direto com eles não era comum. Somente na metade dos anos 70 é que começaram a surgir computadores domésticos. Os computadores de maior porte ficavam isolados em salas refrigeradas e só eram manipulados por técnicos (os "operadores de computador"). A interação por terminal ainda era restrita (particularmente na USP nos anos 70), a forma típica de interação era deixar um deck de cartões perfurados num guichê e depois voltar para pegar de volta os cartões acompanhado de uma listagem.

Na minha infância e adolescência cartões perfurados e listagens de computador eram matéria prima para algumas brincadeiras, mas nunca prestei atenção ao que estava escrito neles. No laboratório da USP onde o meu pai trabalhava eu cheguei a ver algumas calculadoras eletrônicas programáveis e as revistas de eletrônica falavam um pouco sobre computadores e programação. Mas foi só na faculdade que eu pude realmente programar - com várias limitações é claro. No começo do blog (em 2005) eu escrevi como era o processo.

Existe uma intrincada relação entre a Escola Politécnica e as demais faculdades da USP, desde que a Poli passou a ser parte da USP.  De um lado os institutos de Matemática, Física, Química, etc se consideram donos das disciplinas associadas. Do outro, a Poli quer um enfoque específico à engenharia. Isto leva a diversas soluções de compromisso.

No caso em questão, Introdução à Ciência da Computação era uma matéria do Instituto de Matemática (deve continuar sendo), mas o professor era um engenheiro e a linguagem ensinada era FORTRAN.

Para ser mais preciso, as primeiras aulas eram sobre linguagem de máquina de um computador hipotético, o HIPO. Curiosidade: anos mais tarde eu descobri que existia uma quantidade muito maior de material e programas em torno do HIPO do que o que vimos no primeiro mês.

O dialeto de FORTRAN ensinado era o FORTRAN IV. Apesar do compilador utilizado suportar algumas construções mais, digamos, "modernas", o que nós aprendemos era um subconjunto que praticamente obrigava a construção de "código espagueti".  Para tomada de decisões, era usado o chamado "if numérico", através do qual o programa desvia para uma dentre três linhas conforme o resultado de um expressão é menor, igual ou maior que zero.

Morram de inveja programadores Java!
Em retrospecto, não foi um curso que fornecesse uma boa base teórica sobre computação ou boas práticas de programação. Isto eu iria aprender ao longo dos anos seguintes (e continua aprendendo).

Mas foi o suficiente para eu descobrir que gostava e tinha jeito para programação. Junto com outros colegas, procuramos aprender mais sobre isso, No final do ano fizemos alguns cursos gratuitos e nos candidatamos a algumas vagas de estágio.

No final eu fui aprovado para estágio no IPT onde, não por coincidência, trabalhava o professor de Introdução à Ciência da Computação.

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