quinta-feira, outubro 01, 2020

Memórias dos Anos 80: O Projeto de Formatura

Estamos no segundo semestre de 1981, o estágio na Scopus vai indo bem e o fim da faculdade se aproxima. Apesar do último semestre ter algumas matérias bem chatas, uma atividade consome a maior parte do tempo na escola: o projeto de formatura (o que hoje em dia se chama de TCC).



Na grade de aulas o projeto de formatura aparecia como "Laboratório Digital III", com quatro horas semanais. Mas a porta do laboratório estava sempre aberta e era comum aproveitar tanto os intervalos como os horários de aulas menos interessantes. Os projetos eram feitos em grupos de 2 ou 3 alunos.

A professora responsável utilizava seus contatos com os ex-alunos para obter componentes para os projetos (ocasionalmente os alunos também enfiavam as mãos nos bolsos). A Scopus era uma das apoiadoras e lembro também de ir uma vez em um conhecido fabricante de fontes buscar retalhos de dissipadores.

O projeto da minha dupla era o TED - Terminal de Entrada de Dados. Um microcomputador baseado no 8080 (ou 8085? não lembro mais) para conexão a um terminal burro (não quisemos nos arriscar a fazer uma interface de vídeo) e a um gravador K7. O operador definia um formato de entrada de dados (formato e legenda dos dados), fazia a entrada de dados e depois eles eram salvos em K7.


A divisão de trabalho foi simples: eu fiz o software e o meu colega fez o hardware. Dois processos bastante trabalhosos... O hardware foi feito em wire-wrap: todos os integrados iam em soquetes especiais, com pinos longos e perfil quadrado. As ligações eram feitas com fio enrolado nos pinos através de uma ferramenta. A vantagem deste processo é que o resultado é bastante confiável e duradouro (o laboratório da Scopus usava por anos ferramentas montadas assim). O software foi escrito em Assembly, é claro.


Uma parte importante no firmware era o monitor para debug. Alguma hora eu coloquei as mãos numa listagem do fonte do monitor de um kit de desenvolvimento da Intel e ele foi o ponto de partida. Este monitor continuaria a receber aperfeiçoamentos mesmo depois do projeto ter sido concluído.

A ideia inicial era gravar o firmware em EProms do tipo 2716, mas a escola só tinha 2708. Para usar a 2708 era necessário ter uma fonte de -5V. A primeira versão usava um regulador integrado (7905), mas ele pifou. Foi a oportunidade para a minha contribuição para o hardware: um regulador na base de um zener e um transistor de potência (que ganhou dissipador totalmente exagerado, que aparece à esquerda na foto acima).

Aliás, a gravação de EProms na escola era um problema. O gravador disponível era um projeto de formatura de uma turma anterior e usava como console uma TTY. A maior parte do desenvolvimento eu fazia na Scopus, usando o Assembler da Microsoft em um MicroScopus e gravando lá mesmo as EProms. Porém os testes eram feitos na escola e, em caso de erro, o jeito era fazer um remendo lá mesmo. Eu tinha um único disquete de 8" (tive vergonha de me apropriar de disquetes da Scopus). É claro que uma hora o disquete pifou (já mencionei que a Scopus tinha dificuldade com a interface de disquete). O jeito foi redigitar a partir da última listagem e tentar lembrar o que eu tinha alterado depois. O disquete ainda está comigo, como lembrança do projeto, assim como uma listagem.

Eu nunca fiquei contente com o desempenho da leitura e gravação em K7, se lembro direito usamos um chip de modem 300 bps para gerar os tons. O software como todo ficou razoável mas acabei não implementando tudo que pretendia.

Atualização 02/10/20: Meu colega de projeto entrou em contato e esclareceu dois pontos: O microprocessador foi um 8085 e a leitura e gravação em K7 usava um modem FSK.




Um comentário:

Renato Saraiva disse...

Bahhh...Scopus! Consertei esses na Compuserv, assistência técnica autorizada Scopus, Itautec e Microtec, mas isso já em 1989 em Porto Alegre.