O professor Roberto (me foge o sobrenome, para nós ele era o "Betão") era novo na escola. A sala de Biologia ficava no último andar e era o que se chamava "laboratório": azulejos brancos até o teto. No começo do curso a sala estava praticamente vazia: cadeiras, um quadro negro. Em cima da bancada (também azulejada) uma pilha de exemplares antigos do Diário Oficial. Como apontador, Betão usava um pedaço de uma antena velha de fusca (que batia no quadro para frisar o que dizia).
O que diferenciava Betão de um monte de outros professores era que ele estava disposto a se mexer para as coisas mudarem. E conseguiu envolver nisso os alunos, pais, a associação de pais e mestres e até a estrutura administrativa da escola.
Uma das suas primeiras iniciativas foram as excursões. A primeira foi para um local perto, com participação dos pais (para ganhar confiança). Várias excursões para a Serra do Mar: a gente pegava cedo no sábado o trem que segue o rio Pinheiros (que naquele tempo ia até Santos), descia numa estação, passeava mata a dentro, andava um pouco e, no final da tarde, pegava o trem de volta. Teve também algumas excursões para praias, em ônibus meio precários fretados pelos alunos sob o critério de "menor preço". Estas excursões se tornaram importante eventos sociais.
Das páginas amareladas do Diário Oficial, Betão achou um decreto que criava as "Associações Juvenis de Amigos da Natureza". Assim surgiu a AJANOA, que ganhou uma sala , diretoria (alunos eleitos pelos alunos) e equipamentos. Um jardim mau cuidado dos fundos abrigou dois tanques e algumas plantações.
Aos poucos o laboratório foi se equipando. As joias da coroa vieram no final do ano: 10 microscópios novinhos. Russos, o que sempre achei irônico dada a paranoia da época,
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