quarta-feira, setembro 09, 2020

Memórias dos Anos 80: Estágio na Scopus Tecnologia - parte II - O "Laboratório"

Ao começar a escrever sobre o meu trabalho na Scopus, percebi a necessidade de explicar algo difícil de entender atualmente: o "Laboratório".


Da mesma forma como computadores pessoais ainda eram raros no começo dos anos 80, também não era comum os desenvolvedores terem um computador de uso exclusivo na sua mesa. Os microcomputadores ficavam em uma área "comunitária" - o Laboratório.

Os projetistas passavam um certo tempo em suas mesas sem micro. Era possível escrever código em papel e passar para o pessoal de apoio digitar, mas nesta altura já era comum o próprio desenvolvedor digitar o código. Para estudar o código, a gente tinha listagens impressas.

No post anterior eu mencionei os dois Intel Intellect. Além deles, na época em que comecei a estagiar, o laboratório tinha uns tantos micro Scopus (micros CP-M/80 que vão ser o assunto do próximo post). A maioria dos equipamentos tinham algum tipo de gambiarra, dificilmente um equipamento novinho vinha da fábrica para a engenharia.

Um outro equipamento do laboratório era o gravador de EProm, uma gambiarra montada a partir do hardware de um terminal. Anos mais tarde, seria substituído por outro projeto interno mais confiável (tinha até uma placa de circuito impresso própria, ao invés de usar uma montagem wire-wrap).

Rede local ainda era um sonho (durante todos os anos 80 era comum artigos dizendo que aquele seria o "ano das redes"). Mas todos os micros tinham interface serial e elas eram ligadas ao ConCon - Concentrador de Comunicação. Sim, uma outra gambiarra montada a partir do hardware de um terminal. Ele funcionava como uma espécie de central telefônica: você ia lá e digitava os números dos dois equipamentos a serem conectados. Uma funcionalidade especial era poder conectar ao próprio ConCon, que funcionava como spooler de impressão: os dados recebidos eram salvos temporariamente em disquete e enviados para a impressora. Impressora "de linha" (mais rápida e barulhenta que as impressoras matriciais), que ficava fechada em uma salinha.

O ConCon era prático, mas (anos depois) colaborou para um pequeno desastre. Os Intellect dispunham do ICE (In-Circuito Emulator) um cordão umbilical que podia ser espetado no lugar do 8080 em um circuito e permitia depurar o firmware (não era assim tão prático como soa, vários desenvolvedores preferiam deduzir logicamente os problemas e só usavam o ICE como último recurso). Estava então o desenvolvedor usando o ICE, com um modelo novo de terminal. É claro que o terminal estava todo aberto para dar acesso ao soquete do processador. Por algum motivo, a placa auxiliar para converter os sinais seriais para o padrão RS232 estava solta. E aí a placa bateu no lado interno do soquete de alimentação (não isolado), jogando 110V na trilha de terra da placa. Os 110V foram pela cordão umbilical até o Intellect. E pela serial do Intellect até o ConCon. E do ConCon para todos os outros equipamentos... Demorou semanas para ressuscitar todos os equipamentos.

Nenhum comentário: