Ruminações Sobre as Opções de Ebbok no Brasil

Recentemente Apple, Livraria Cultura, Amazon e Google se movimentaram no mercado brasileiro de eBooks. Neste post vou comentar alguns aspectos destas ofertas. Já aviso que minha experiência pessoal é restrita ao Kindle e as informações que encontrei até agora são bem incompletas. Quem tiver mais conhecimento sobre o assunto sinta-se livre a compartilhá-lo nos comentários


eBooks: Formatos e DRM

Existem vários formatos em uso para distribuir livros eletronicamente. Infelizmente, equipamentos e softwares não suportam nativamente todos os formatos. Mesmo quando existe suporte, o resultado pode não ser muito satisfatório. Por exemplo, o formato PDF, de uso tão comum no desktop, costuma ser problemático (particularmente por possuir o layout fixo, em muitos casos tomando como base um tamanho de página inadequado para o leitor).

Para complicar mais esta "Torre de eBabel" (expressão que não é minha) existe a questão do DRM (Gerenciamento de Direitos Digitais). O DRM é imposto por muitas editoras, pelo medo da distribuição não autorizada dos livros. Ele é também uma forma de amarrar uma loja de eBooks a determinados dispositivos. Por exemplo, quem tem um Kindle da Amazon não conseguirá (sem burlar o DRM e converter o formato) ler um livro comprado na loja da Apple, Livraria Cultura ou Google. O DRM também impede de emprestar um livro e dificulta a passagem de um livro que você comprou entre os seus próprios dispositivos. Uma outra malvadeza do DRM são os famigerados "kill switches", onde a loja consegue apagar remotamente um título que considere indevido.

Cabe ressaltar que nem todos os eBooks utilizam DRM e os dispositivos e aplicativos costumam ser mais flexíveis quando se trata de aceitar formatos sem DRM. Algumas editoras e organizações (como o Projeto Gutemberg) fornecem os seus livros sem DRM e em vários formatos, de forma a suportar a maioria dos dispositivos.

Existem também ferramentas para remover DRM e converter entre formatos (veja nos links ao final). Como as informações de DRM e dos formatos proprietários não são públicas, estas ferramentas nem sempre funcionam 100%. Um pouco de pesquisa e paciência podem ser necessários.

O DRM não é o único empecilho para a compra em qualquer livraria. Alguns sites no exterior limitam os itens oferecidos conforme o país de residência do comprador.

Leitores Específicos x Tablets x Outros Dispositivos

Leitores específicos (os eBook Readers) normalmente utilizam telas de "tinta eletrônica" e tem pouca (ou nenhuma) funcionalidade adicional à apresentação dos eBooks. Estas telas são excelentes para leitura em condições semelhante à leitura de livros tradicionais. É necessária iluminação para ler no escuro; alguns modelos mais recentes possuem esta iluminação integrada. Estes aparelhos são compactos (o tamanho típico de tela é 6"), leves e, graças à tela, costumam operar por semanas com uma única carga de bateria.

Apesar do aumento da resolução das telas de LCD, tablets não oferecem o mesmo conforto visual para a leitura (mas podem apresentar cores, o que a tinta eletrônica ainda não permite a um preço acessível). Os tablets fornecem muitas outras funções, mas são maiores, mais pesados, mais caros e a bateria dura da ordem de um dia.A Amazon e a Barnes and Noble lançaram tablets de baixo preço e funcionalidade reduzida para complementar as suas linhas de leitores específicos.

Com o aplicativo adequado, você pode ler eBooks no seu celular, notebook ou desktop. Em alguns casos existe também a opção de ler através de um navegador web normal. Em todos estes casos a leitura é bem mais incômoda (pelo menos para mim).

Preços

Uma vez que não existem os custos relativos à impressão, manuseio e transporte dos livros eletrônicos, existe a expectativa de que tenham um preço bem inferior aos tradicionais. Infelizmente, não é isto que acontece. A diferença de preço entre um livro no formato eletrônico e brochura costuma ser pequena. Segundo um dos artigos que li (vide links no final), as editoras nacionais impuseram o preço mínimo de 70% do livro físico.

O atrativo dos livros eletrônicos não está no preço. É a agilidade para obter e começar a ler e a flexibilidade de carregar centenas de livros em um dispositivo menor e mais leve que muitos livros físicos.


Livraria Cultura e o Kobo

Na minha opinião, a Livraria Cultura é quem saiu com a solução mais completa nesta primeira salva de lançamentos. O dispositivo específico, o Kobo, já está disponível nas lojas físicas (e na virtual) por um preço acessível (R$399), em reais e que pode ser pago em várias vezes no cartão de crédito nacional (como nós brasileiros estamos acostumados).

Pelas informações que obtive, o Kobo é um bom leitor de eBooks. O modelo atualmente a venda é um modelo simples, mas com recurso touch; outros modelos estão prometidos para breve. Existem aplicativos compatíveis para Windows,MacOS,  iOS e Android, o que significa que você não estará preso a ele para ler os livros que comprar. O formato preferido do Kobo é o ePub, que é o mais usado por leitores "independentes" (não amarrados a uma loja virtual).

A Livraria Cultura tem um acervo razoável de livros em português e em inglês. Pelo que pude descobrir, os livros são fornecidos no formato ePub com DRM da Adobe.

Amazon e o Kindle

Após toda a novela sobre a vinda da Amazon ao Brasil, a sua chegada oficial foi decepcionante. No momento existe apenas a versão brasileira da loja de eBooks, com um bom catálogos de livros em português e inglês com preços em reais. Infelizmente, quem já tem uma conta na Amazon americana tem que migrá-la para o Brasil, o que traz alguns desconfortos.

O Kindle está prometido para breve (comenta-se que estariam presos na alfândega). O modelo que será oferecido é o mais simples, pelo preço relativamente baixo de R$299 (comparando com a importação individual que estava disponível antes). Não é touch, mas o meu pai usa um a meses praticamente sem reclamação.

O formato preferido do Kindle é próprio, com DRM também próprio. Existem também aplicativos para Windows, MacOS, iOS e Android.

Apple e iBooks

A solução da Apple é extremamente fechada. Formato preferencial próprio, DRM idem. Suporte somente aos dispositivos iOS. Loja com livros em português, mas preços em dolar. No lado positivo, a aplicação de leitura tem um visual caprichado (mas você pretende ler o livro ou ficar vendo o belo efeito de mudança de página?) e a leitura de PDF no iPad de 10" é bem mais cômoda que em dispositivos com tela menor.

Se você já tem um iPad, ou quer um por outros motivos, a funcionalidade adicional de leitor de eBooks é útil. Se a sua prioidade é a leitura de eBooks, as outras opções provavelmente serão mais atraentes.

Google

A Google também começou a oferecer livros no Brasil, através do Google Play. Ao contrário dos anteriores, não estão oferecendo um dispositivo.  Dispositivos compatíveis com a plataforma eBook da Adobe (como o Kobo) podem ser usados. A leitura pode também ser feita através de um browser ou de aplicativos para Android e iOS.

A loja tem preços em reais e tem catálogos razoáveis de livros em português e inglês (aparentemente a maior parte do catálogo são livros em domínio público).

Links

Os links abaixo são de alguns locais onde eu fui procurar informações:

Sites dos "fabricantes":
http://www.livrariacultura.com.br/kobo/
http://www.amazon.com.br/
http://support.google.com/googleplay/bin/answer.py?hl=pt-br&answer=179849&topic=2450651

Sobre formatos e DRM:
http://apprenticealf.wordpress.com/2011/01/13/ebooks-formats-drm-and-you-%E2%80%94-a-guide-for-the-perplexed/
http://paidcontent.org/2012/04/24/breaking-drm-publishing-exec/

Sobre os lançamentos no Brasil:
http://ebookpress.wordpress.com/2012/12/06/rival-do-amazon-kindle-kobo-touch-e-boa-opcao-para-ler-ebooks-brasileiros/
http://www.gizmodo.com.br/duvidas-sobre-ebooks-kindle-e-amazon-nos-respondemos/
http://blogs.estadao.com.br/link/novo-capitulo/