Embora o mais comum nos microcontroladores seja implementar o ADC usando a Aproximação Sucessiva (SAR - que vimos no post anterior), alguns utilizam o mais sofisticado (e complicado) Sigma Delta (também chamado de Delta Sigma).
Diagrama de um ADC Sigma Delta (extraído da ref 3) |
Em muitas aplicações de ADC queremos medir uma tensão que varia lentamente (como um sensor de luz ou temperatura) e detectar quando um limite é passado. Para entender o Sigma Delta, é útil analisar um outro tipo de aplicação do ADC: a análise de um sinal que varia continuamente e onde estamos interessados não na sua amplitude, mas sim na sua frequência.
A transformada Fourier (FT) é a fórmula matemática pela qual se determina as frequências e amplitudes das senóides que, somadas, geram o equivalente a um conjunto de amostras periódicas de um sinal. Um dos teoremas básicos da amostragem é que para capturar corretamente um sinal com frequência f deve ser feita uma amostragem com frequência (fa) de pelo menos duas vezes f.
Como vimos no post anterior, o número de bits do resultado causa um erro (chamado de erro de quantização). Quando se aplica a os dados coletados pelo ADC a uma transformada de Fourier, esse erro gera uma série aleatória de frequências espúrias entre 0 e fa/2 com baixa amplitude - um ruído. Nos ADCs baseados em SAR a forma de diminuir este ruído é aumentando o número de bits (o que deixa a conversão mais lenta).
Ruído de quantização (extraído da ref 1) |
O princípio dos ADCs Sigma Delta é que amostrando a o sinal com uma frequência maior (k*fa), o ruído se espalha por mais frequências. Um filtro digital pode jogar fora as frequências acima de fa/2, dividindo por k o ruído.
Em termos de implementação, um modulador Sigma Delta transforma o sinal de entrada em um sinal PWM (onde a relação entre o tempo em nível alto e o tempo em nível baixo corresponde à amplitude do sinal). Este sinal PWM alimenta o filtro digital e um decimador que fornece o resultado final.
A figura abaixo mostra como é gerado o sinal PWM num conversor de primeira ordem: o sinal de entrada é continuamente comparado com um DAC alimentado pela saída (delta). O resultado da comparação é acumulado por um tempo (sigma) e depois comparado com a referência. É possível criar conversores de ordem mais elevada colocando em série blocos delta/sigma.
Modulador Sigma Delta (extraído da ref 3) |
Embora a teoria seja complicada, esta implementação é relativamente simples e competitiva em termos de custo x desempenho quando comparada com o SAR. Por esse motivo é comum o uso do Sigma Delta em ADCs voltados para processamento de sinal.
Referências para quem quiser mais detalhes:
- https://www.maximintegrated.com/en/design/technical-documents/tutorials/1/1870.html
- https://www.analog.com/en/technical-articles/behind-the-sigma-delta-adc-topology.html
- https://www.ti.com/lit/an/slyt423a/slyt423a.pdf
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