quinta-feira, junho 24, 2021

Memórias dos Anos 90: Um Bate-e-Volta

Uma das características dos meus anos na Seal foram as viagens internacionais. Pelo menos uma vez para o ano eu ia para o exterior (exceto por uma única vez, sempre para algum lugar nos EUA), quase todas as vezes para um treinamento ou evento técnico. Mas esta viagem em 1998 para Cincinnati foi diferente.

A lembrança da viagem


À medida que o século terminava (e o temível bug do milênio se aproximava),  a febre nas empresas era trocar os seus "sistemas de gestão" obsoletos pelos "ERP"s (Enterprise Resource Planning). Parte disso eram os WMS (Warehouse Management System), os sistemas de gerenciamento de depósito. Usados junto com coletores de dados portáteis com comunicação RF (é claro), os processos de estocagem, separação e expedição de mercadorias ficam muito mais ágeis e confiáveis. Obviamente este era um grande mercado para a Seal, que em breve teria um departamento técnico exclusivo para isso.

Mas, no começo de1998, este departamento ainda não existia e surgiu uma situação especial. Um cliente com potencial para algumas dezenas de coletores usava um ESP/WMS menos conhecido. Tecnicamente a coisa era simples, o sistema exigia apenas um terminal Telnet com emulação VT. A única pegadinha, e era por isso que os equipamentos Symbol não estavam "homologados" pela empresa do software, é que os terminais portáteis precisavam ter 16 linhas. Originalmente todos os terminais da Symbol tinham tela com 8 linhas de 20 caracteres, mas nesta época já tinha sido lançado o PDT 35xx com um display de 16 linhas (ficava "esteticamente menos favorecido", mas era a opção que tínhamos).

A coisa complicou quando a Symbol não se interessou em se envolver no processo de homologação, nem mesmo fornecendo os equipamentos para teste. Solução: manda o DQ para lá com os equipamentos...

Eu não vou lembrar da lista completa, mas era algo como:

  • O ponto de acesso
  • Antena e fonte para o ponto de acesso
  • O coletor PDT3540
  • Um cabo de carga e comunicação para o coletor e a respectiva fonte
  • Um coletor veicular VRC3940
  • Um cabo de comunicação e a fonte para o VRC
Até hoje tenho a malinha de lona onde coloquei tudo isso. Para não ter surpresas, embarquei com isso tudo como bagagem de mão (ainda bem que ninguém sonhava com algo como o 11 de setembro). Naquele tempo, quando se embarcava com qualquer produto eletrônico, era preciso registrar a lista num guichê da receita no aeroporto, para provar na volta que não era contrabando.

A parte que me preocupava era a entrada nos EUA. Tendo nacionalidade americana, mas morando no Brasil, era comum ser escolhido para passar na alfândega. Os equipamentos eram americanos, mas provavelmente iam pedir explicações... Felizmente deste vez eu passei direto.

Como na maioria das minhas viagens nesta época, o hotel ficava próximo do local de "trabalho" e eu não aluguei carro. Assim um taxi me deixou no hotel no final de uma manhã de domingo. Eu dei uma passeada a pé por perto e juro que vi em frente a um parque uma placa de "Cuidado, travessia de dinossauros" (não, não tenho foto).

Segunda de manhã, lá fui eu a pé com a mala de equipamentos até a empresa. Me apresentei primeiro para o gerente, que me passou para o técnico que ia fazer os testes. Instalei e configurei os equipamentos, paramos para um almoço, o técnico passeou por algumas telas e me "liberou". Voltei para o hotel, descansei, jantei, dormi.

Na manhã seguinte voltei lá, o gerente disse que os testes tinham sido um sucesso, me deu um papel assinado, recolhi os equipamentos e voltei ao hotel. Liguei para a Seal e dei as boas novas e ouvi um "ótimo, vamos tentar adiantar o seu voo de retorno". Pouco depois confirmaram que o retorno estava agendado para a tarde!

Junta tudo, fecha a conta no hotel... Aí peguei um taxi e pedi para ir para o mall (shopping "em português") mais próximo para comprar algumas lembranças. Teve que ser bem rápido, lembro que tinha um loja só de ferromodelismo que me cativou... No corredor tinha um carrinho com algumas esculturas africanas em madeira, foi onde comprei o leão que está lá no alto. O vendedor não deixou escapar a ironia de um brasileiro estar comprando uma escultura de um africano no "meio" dos EUA.

Enfim, missão cumprida, despachei os equipamentos e tratei de relaxar no voo de volta, pois era claro que na quinta de manhã eu ia estar de volta à rotina do trabalho.

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