quinta-feira, maio 27, 2021

Memórias dos Anos 90: Spectrum 24 (parte 1)

No post anterior eu falei sobre o Spectrum One, um sistema de rádio específico para os coletores da Symbol. O sistema seguinte de RF da Symbol foi o Spectrum 24, que tinham aspirações bem maiores.


A Symbol, as outras empresas de coletores, e as empresas de rede em geral, tinham grandes planos para a geração seguinte de comunicação por rádio, usando a faixa de 2,4 GHz. O ponto de partida era uma integração com as redes locais, o que envolvia a padronização na IEEE. O problema é que existiam grandes divergências sobre a parte técnica.

A primeira versão do 802.11 (retroativamente chamado de 802.11-1997), deixa bem aberta a implementação, permitindo o uso tanto de frequence hopping como direct sequence. Curiosamente, a posição da Symbol e seus concorrentes se invertia em relação aos 900MHz, a Symbol defendeu o uso de frequence hopping nos 2,4 GHz. A taxa utilizada pelos primeiros sistemas era de 1 ou 2 Mbps. O padrão foi aprovado em 1997, mas aparelhos começaram a ser comercializados antes disto (com a promessa de atenderem ao padrão por meio de atualização).

O equipamento principal no Spectrum 24 era o access point (ou base), operando como uma ponte (bridge) no nível 2 (data link ou enlace), mais especificamente no nível MAC. O que isto quer dizer é que a base transmite por RF os pacotes que recebe pela rede ethernet e vice-versa. Para otimizar as coisas, a base pode ir aprendendo os endereços dos dispositivos nos dois lados. Este comportamento faz com que a base funcione com qualquer protocolo usado na rede ethernet.

Como comparação, atualmente falamos muito nos roteadores WiFi. São roteadores porque trabalham no nível 3 (rede), fazendo o roteamento (duh!) das comunicações TCP/IP entre as redes cabeada, RF e WAN ("banda larga"). Entre as redes cabeada e RF estes aparelhos continuam funcionando como bridges.

A adoção da primeira geração do Spectrum 24 teve alguns impactos. O aumento de velocidade não fez muita diferença para os coletores da época, mas passava a ser possível conectar também microcomputadores (através de um cartão PCMCIA). Um ponto mais sensível foi a redução do alcance em relação ao Spectrum One (devido à frequência mais alta, menor potência e detalhes da implementação), o resultado era um número maior de bases para cobrir a mesma área. Outro ponto foi o desuso das controladoras (NCU). A emulação Telnet realizada diretamente nos coletores passou a ser a opção mais comum (do ponto de vista técnico, o uso da NCU dava vantagens de desempenho, mas eram pequenas em relação à simplificação do sistema e redução do custo total).

Um efeito colateral da padronização foi que a comunicação por rádio foi deixando de ser uma aplicação de nicho. Com o tempo a conexão de micros passou a ser o uso principal, e novas versões do padrão foram criadas com taxas maiores, criando uma sopa de letrinhas. A Symbol tentou se posicionar neste mercado mais amplo, notadamente fornecendo rádios para a 3Com (alguém lembra dela?), mas acabou ficando no seu nicho.

No próximo post vamos falar sobre a evolução dos coletores na segunda metade dos anos 90.

2 comentários:

Fernandão disse...

Nossa, trabalhei muito com esses equipamentos, fazia os programas em C para comunicar pelo rádio Spectrum 24, fiz até um curso na ConnectRF !!! Não sei se você lembra, mas você foi até o Martins em Uberlândia (1995 acho) para instalação de uma estrutura com a NCU, eu que era o executor do projeto. Bons tempos!

Fernandão disse...

Corrigindo, na época era Spectrum ONE ainda.