quinta-feira, março 04, 2021

Memórias dos Anos 80 e 90: Evoluções do Zapt

 Vou fugir aqui da ordem cronológica e falar sobre as evoluções do Zapt após o seu lançamento.

O folheto do Zapt também evoluiu


Uma grande mexida foi a implementação de drivers para controle de interfaces e modems. Ao longo dos anos as rotinas de acesso a interfaces e comando de modems do Z e do Zapt foram crescendo até chegar numa complexidade onde suportar um novo modelo resultava num período de instabilidade do software.

Configurando um placa modem Elebra

Mover estas rotinas para fora do Zapt pode parecer simples, mas envolveu criar toda uma API para que Zapt e driver trocassem as informações necessárias. Foi preciso também permitir que o driver incluísse a sua tela de configuração entre as telas de configuração do Zapt.

Foi um processo longo e daqueles que o usuário não enxerga.

Num outro extremo, tivemos uma modernização da interface com o usuário (basicamente os menus). Algo bem visível mas que não trazia novas funcionalidades. O Z (e a primeira versão do Zapt) se baseava no modelo do Lotus 123, com alguns aperfeiçoamentos. O menu era uma barra horizontal, apresentada ao digitar Alt. Na linha de cima os comandos (com uma letra de acionamento em destaque) e na linha de baixo uma ajuda simples. O usuário experiente podia digitar direto Alt letra. O menos experiente digitava Alt e navegava pelas opções com as setas.

Os submenus eram sobrepostos

No Zapt a barra passou para a vertical e os caracteres semigráficos foram usados para fazer bordas e sombras. Era a moda das aplicações modernas (da época).

O mais interessante deste projeto foi que ele foi feito com impacto mínimo no restante do código.

Nos dois aperfeiçoamentos anteriores o meu trabalho foi mais de gerenciamento (estava virando "chefe"). Mas coloquei a mão no código no aperfeiçoamento seguinte: as telas de ajuda (outra coisa que estava entrando em moda). A ajuda do Zapt usava o conceito de hipertexto (já ouviram falar? sabe o ht de http e html?). As páginas de ajuda tinham palavras (links) que levavam a outras páginas. Não lembro mais os detalhes, mas acho que defini o formato dos arquivos de ajuda (com as tabelas para implementar os links e compactação do texto) e fiz o "compilador" que gerava o arquivo de ajuda a partir de um arquivo texto. O resultado me surpreende até hoje. A ajuda do Zapt era sensível ao contexto, apresentando a ajuda apropriada para a tela (ou campo). Drivers e filtros tinham também as suas ajudas, que se integravam com a do Zapt.

As palavras em intenso são os links

Um último "aperfeiçoamento" que quero comentar diz respeito a uma coisa polêmica: proteção contra cópias. A Humana não era paranoica, mas seu modelo de negócio se baseava em cobrar uma cópia por cada máquina onde o programa fosse executado. Para isto o disquete original funcionava como uma "chave" que precisava estar no drive para o programa executar e cada cópia tinha um número. Ainda no tempo do Z, foi criada a possibilidade de instalação no HD. Era permitida uma única instalação simultânea, para instalar em outro HD era preciso desinstalar do anterior. Junto com o processo de instalação em HD foi criado um processo de licenciamento, onde o nome do cliente era gravado no software.

Nós estávamos conscientes que a proteção era um transtorno para o cliente e procurávamos fazer com que fosse mínimo. De vez em quando a gente se defrontava com uma situação que mostrava que nem todos os clientes jogavam limpo. Teve uma vez que, num suporte em campo, descobrimos que o cliente usava uma única cópia de Z em três micros lado a lado, colocando o disco cada vez num micro (para não atrapalhar demais os clientes o Z e o Zapt testavam a chave só na iniciação). Disquetes danificados eram trocados (acho que inicialmente sem custo, depois foi criada uma taxa). Um dia recebemos um disquete de Z sujo de café. O estado da etiqueta sugeria que ela tinha sido removida no disco original e colada num outro disquete.... Aqui a paranoia falou mais alto e os discos do Z e Zapt passaram a receber uma marca em relevo.

Ao longo dos anos 80 o uso de proteção nos softwares foi caindo, frente a reclamações e campanhas de usuários e revistas. Em algum ponto no início dos anos 90 a proteção do Zapt foi retirada. As cópias continuaram numeradas e identificadas, mas o usuário podia fazer cópias backup livremente.


2 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia !
Quanto à questão das cópias do disquete, e se o cliente fizesse um "Diskcopy a: b:" ?
Havia alguma proteção (tipo int 42h) ?
Abração.
Alexandre.

Daniel Quadros disse...

Alexandre, não lembro dos detalhes, mas era algo do tipo ter um setor a mais em uma das trilhas, gravado de forma "não convencional". O diskcopy não copiava porque desconhecia o setor. Além disso era extremamente difícil (para não dizer impossível) gravar desta forma com a controladora do PC (a formatação dos discos era feito usando um hardware especial).