Nos anos 80 a gente não tinha a internet. Mas tinha o videotexto (também chamado VTX).
Capa do Manual, já no tempo do Zapt |
O nome videotexto é usado para muitas coisas, mas o videotexto que estou falando aqui era baseado em um sistema francês, o Minitel (que espantosamente durou até 2012). A ideia básica era um serviço acessado via telefone usando um terminal específico ou um computador com o software adequado.
Aqui em São Paulo os principais serviços disponíveis eram o da Telesp e do Bradesco. O primeiro era voltado para "pessoas físicas" enquanto que o segundo permitia que os correntistas examinassem o saldo e obtessem o extrato sem precisar ir até uma agência (algo incrível para a época).
O sistema tinha algumas características técnicas interessantes. A primeira era a comunicação no chamado 1200/75bps (ou 1275). Comunicar a 1200bps nos dois sentidos estava no limite da tecnologia de modens na época. Para usar um modem mais simples, o terminal videotexto operava recebendo a 1200bps e transmitindo a 75bps. A ideia era que 75bps era suficiente para digitação e 1200bps permitia a recepção "rápida" de uma tela.
O problema é que a interface serial do IBM PC operava com a mesma velocidade para transmissão e operação. O Z usava um hack (cujo segredo nós guardámos cuidadosamente): a transmissão era feita bit a bit usando o recurso de transmissão de break da UART (manter o sinal de saída em zero) durante a interrupção do timer. Anos mais tarde, alguns modens "inteligentes" tinham o recurso de falar com o micro a 1200bps e transmitir na linha telefônica a 75bps.
Uma outra característica era os caracteres semigráficos coloridos que (mais uma vez) faziam a CGA passar vergonha. O videotexto trabalhava com uma tela com 24 linhas com 40 colunas de caracteres. As cores de frente e fundo (pontos acesos e apagados) de cada caracter podiam ser selecionada dentro de 8 opções. Até aqui parece tranquilo para o modo texto da CGA. Entretanto além dos caracteres normais o videotexto tinha os "mosaicos", uma coleção grande de desenhos semigráficos. Para completar a complicação, existiam as opções de dupla largura, dupla altura e piscante. Para implementar isso era preciso colocar a CGA no modo gráfico colorido, que tinha imensas restrições de cores.
Quem desenvolveu o filtro VDT foi o Claude (o desenvolvedor francês que já mencionei antes). Ele já conhecia bem o videotexto. Após muitas discussões, o filtro oferecia três formatos para a tela:
- Alfanumérico: neste formato só eram apresentados os caracteres normais (inclusive retirando a acentuação). A finalidade disso era obter um texto que pudesse ser facilmente manipulado.
- Alfanumérico semigráfico: neste formato os caracteres semigráficos eram aproximados pelos disponíveis no PC, mas todas as cores estavam disponíveis
- Alfamosaico: aqui o filtro assumia o comando do vídeo e usava o modo gráfico. Todos os mosaicos eram suportados, mas as cores... A solução foi alternar pontos de duas cores para representar as cores do videotexto. Originalmente as combinações de duas cores eram configuráveis para cada uma das oito cores do videotexto. Anos mais tarde o filtro passou a suportar as placas EGA e VGA e deixou de oferecer as combinações configuráveis na operação com placa CGA.
3 comentários:
Obrigado pelo texto. Revivi boas lembranças. :-)
VideoTexto. Na cidade de São Paulo houve também a "Central Telerádio de Videotexto".
Eu utilizava via um HotBit com um Modem DDX, este último possuía todo firmware para emular um terminal VTX.
Que viagem no tempo! Quantas boas lembranças! :)
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