Meus conhecimentos sobre a penicilina eram poucos antes de ler este livro: uma certa ideia da sua importância para a medicina e uma lembrança de ter sido descoberta acidentalmente por um cientista chamado Fleming. Não desconfiava da importância de vários outros personagens, que são o foco deste livro, nem as circunstâncias e os dramas da comprovação da sua eficácia e do desenvolvimento das técnicas necessárias para a sua produção.
Alexander Fleming ("the quiet scot") realmente descobriu a penicilina (embora o livro questione um pouco a forma como a descoberta foi feita). Ele descreveu a descoberta em um artigo em 1929, porém o estilo econômico com as palavras não despertou interesses. Após tentativas infrutíferas de isolar o componente ativo, o próprio Fleming foi se desinteressando e em 1935 encerrou esta linha de pesquisa. Em 1942 a penicilina virou notícia e uma combinação de fatores levou os jornalistas a colocar os holofotes em Flemming e ignorar os cientistas responsáveis pelos resultados práticos. Entre eles o descaso do Dr Florey por notoriedade e o interesse por apoio financeiro do Hospital onde Flemming trabalhava.
Howard Walter Florey ("the rough colonial genius") foi o principal responsável por manter a pesquisa da penicilina ativa, apesar de várias dificuldades. Para isto montou um equipe que incluía os bioquímicos Ernest Boris Chain ("the temperamental continental") e Norman George Heatley ("the micro master").
As dificuldades eram muitas, a começar pela instabilidade da penicilina. Embora fosse facilmente reproduzível em laboratório a ação anti-bacteriana gerada pelo fungo, a extração de um composto estável que pudesse ser usado como remédio parecia impossível. Some-se a isto as dificuldades financeiras, aumentadas pela Segunda Guerra. Quando conseguiram realizar os primeiros experimentos com pessoas, ficou claro a importância de manter o tratamento por vários dias, o que requeria quantidades muito difíceis de produzir num laboratório acadêmico. Só com muita insistência Florey conseguiu interessar o governo britânico e um fabricante americano de remédios.
Durante a pesquisa surgiram diversas questões éticas. Como deveria ser a relação entre a escola e a indústria? O processo deveria ser patenteado? Quais pacientes deveriam receber a pouca quantidade disponível? A quem cabiam as honras pela descoberta?
O livro aborda todas estas questões, narra o longo caminho até a produção em volume da penicilina e retrata as complexas personalidades das pessoas envolvidas, em um texto muito agradável de ler, que às vezes beira um thriller.
Veredito: Altamente recomendado.
PS: "Without Fleming, no Chain or Florey; without Florey, no Heatley; without Heatley, no penicillin" - Sir Henry Harris
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