domingo, maio 31, 2015

Resenha: The Strangest Man

"The Strangest Man" é uma biografia de Paul Dirac (1902-1984), um físico teórico que fez contribuições fundamentais à mecânica quântica, o que lhe rendeu o prêmio Nobel de Física em 1933. É um livro que eu conheci e folheei na casa de um amigo; bastaram umas poucas páginas para vir a compulsão de comprar o eBook e ler até o fim. É um livro interessante sob diversos pontos de vista.


Dirac vivenciou um período muito ativo da Física, com mudanças radicais na forma de explicar a natureza a partir do anúncio da Teoria da Relatividade. Embora o livro não entre em detalhes teóricos nem tente cobrir toda a pesquisa, dá para sentir a empolgação e as frustrações dos pesquisadores.

Dirac acreditava que era chegada a hora da teoria conduzir a experimentação; embora isto não tenha ocorrido totalmente, várias previsões decorrentes apenas de fórmulas teóricas se mostraram realidade (como a anti-matéria, que surgiu como uma das  soluções para o que hoje chamamos de Equação de Dirac). Uma outra mudança durante a vida de Dirca foi a mudança do centro das pesquisas da Europa para os Estados Unidos.

Dirac conviveu com outros grandes nomes como Einstein, Heinsenberg, Schrödinger e Feyman. As breves menções deram um pouco de cor a personagens que eu só conhecia dos livros de física.

Outro efeito colateral da narrativa é a visão histórica. A juventude de Dirac se passou durante a primeira guerra mundial. Como muitos na época, ele se sentia atraído pelo socialismo. O seu grande amigo, Kapitsa, era russo e foi uma figura importante na União Soviética (na qual ficou confinado a partir de 1934). A ascensão de Hittler e a segunda guerra produziram efeitos diretos no seu círculo de amigos e parentes. A família de sua esposa era da Hungria, sua irmã era casada com um judeu que foi parar em um campo de concentração. Embora a sua participação no projeto da bomba atômica tenha sido indireta, ele esteve sempre ciente do potencial de destruição e as questões morais envolvidas. No pós guerra, vivenciou o macartismo e teve dificuldades para obter entrada nos EUA quando resolveu morar lá.

Mas a parte central da biografia é o estranho comportamento de Dirac, o que dá o título ao livro. São inúmeras as história relatando o seu estilo calado e preciso. A minha predileta é quando, ao terminar uma palestra em que encheu uma lousa com equações, um colega timidamente levanta e diz "Sr Dirac, não entendi a equação no canto superior direito". Após um longo silêncio, o moderador perguntou a Dirac se ele não ia responder. Dirac disse: "Isto foi uma afirmação, não uma pergunta".

O autor do livro fez um excelente trabalho de pesquisa para entender como esta personalidade se formou. A conclusão dele, e do próprio Dirac, é que a origem está no comportamento do pai e na desconfortável dinâmica familiar. O pai de Dirac era bastante severo e mesquinho; por outro lado ele sempre se esforçou em acompanhar a carreira do filho, que muito orgulho lhe gerava.

O livro me cativou de tal forma que a leitura dos últimos capítulos acabou sendo dolorosa. Algumas tragédias pessoais atingiram Dirac; seus antigos companheiros foram morrendo e, finalmente, a sua própria saúde foi se deteriorando. Amante de longas caminhadas, se viu confinado a cadeiras e leitos.

Veredito

Recomendado.

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