Lembranças
O meu pai é fã de Júlio Verne, e os seus livros me lembram minha infância. O meu pai foi comprando os livros aos poucos, a maioria de uma coleção portuguesa (o que a minha mãe não aprovava muito, com medo de eu aprender português de Portugal). Os livros de Júlio Verne estiveram entre os primeiros que eu peguei na biblioteca do ginásio.
O Livro Impresso (em português)
Tenho em casa uma edição de 1984 pela Editora Hemus, que certamente não é a que li durante a infância. A capa possui imagens que não tem um ligação muito direta com a história. Na parte interna tem algumas figuras do original francês. Uma fato que percebi agora é que o texto não é integral, parece que algumas passagem supérfluas foram cortadas.
A Editora Hemus continua existindo, porém desde 2009 como Leopardo Editora. O site possui uma edição mais moderna do livro à venda (aqui). Entretanto, a Livraria Cultura indica que o livro está esgotado (aqui, junto com outras opções).
A História
O livro conta as aventuras de cinco homens que, prisioneiros da guerra civil americana, fogem de Richmond em um balão. Tolhidos por uma terrível tempestade, caem em uma ilha.
Durante a viagem, praticamente tudo que levavam (fora as roupas do corpo) foi jogada para retardar a queda do balão. Felizmente, entre eles temos um engenheiro. Como em várias histórias de Júlio Verne, a ciência tem destaque na trama e quase tudo vence. Em pouco tempo, Cyrus Harding* "industrializa" a ilha, começando pela cerâmica, passando pela metalurgia e chegando aos explosivos. Mais tarde, chega a implantar um telégrafo!
Desde o momento da chegada à ilha, fatos estranhos ocorrem, sugerindo a presença de uma ou mais pessoas que auxiliam os colonos (como eles próprios se denominam ao invés de náufragos).
O livro é relativamente longo e tem algumas divagações de Verne, mas não chega a ser cansativo. Tem também alguns exageros (igualmente típicos de Verne), particularmente um orangotango doméstico.
No geral a narrativa é do tipo que "prende" o leitor e a conclusão da trama é altamente satisfatória.
* O texto no Projeto Gutemberg e o audio book utilizam nomes de uma tradução para o inglês, o livro da Editora Hemus segue o original frances (no caso Cyrus Smith).
Algumas Curiosidades
Os colonos são partidários do Norte na guerra civil e, portanto, abolicionistas. Entre eles temos um negro (Nab), que Verne faz questão de dizer repetidamente ser um ex-escravo, tendo sido libertado por seu dono (Cyrus Harding). Entretanto, Nab é o criado de Cyrus, a quem sempre se refere como "seu mestre" e sua participação me pareceu meio secundária (por exemplo, é ele quem cuida das atividades domésticas e nem sempre é consultado nas decisões). Ficou para mim a impressão de que a crença intelectual de Verne na igualdade das pessoas não conseguiu vencer totalmente o peso dos costumes da época.
Uma das divagações de Verne é sobre o futuro da Terra. Ele manifesta preocupação com uma futura era glacial, causada pelo esfriamento do Sol e do centro da Terra, e com o esgotamento do carvão mineral ("imprescindível" para a industrialização). Como solução para este segundo problema ele propõe o uso de hidrogênio e oxigênio obtidos através da hidrólise. Esta ideia (que ele também usa em "Cinco Semanas em Um Balão") não é viável: a energia necessária para a hidrólise é maior que a recuperada queimando o hidrogênio e oxigênio obtidos.
O Audio Book
A leitura é feita por Mark Smith, o mesmo que gravou Tarzan Of The Apes. Sua dicção é ótima e nesta leitura ele utiliza vozes ligeiramente diferentes para os principais personagens. A qualidade da gravação é muito boa, embora tenha me parecido escutar um zumbido de fundo ao escutar com volume bem alto.
Veredito
Fortemente recomendado.
Links:
Audio book no AudioOwl
Audio book no LibriVox
Texto no Projeto Gutemberg
Informações na Wikipedia
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