quarta-feira, abril 29, 2009

Sun & Oracle: Divagações

A compra da Sun pela Oracle é a notícia do momento e não consigo deixar de dar os meus "pitacos". Gostaria de começar reconhecendo minha pouca familiaridade com os produtos de ambas as empresas, o que aumenta a chance de falar besteiras (mais que o usual, bem entendido).

A Sun Antes da Aquisição

Espero que mesmo os "java-boys" reconheçam que a Sun estava em uma sinuca de bico, com grandes dificuldades nos vários negócios em que atua:
  • Servidores: a Sun surgiu da fabricação de computadores usando chips de projeto próprio. Um negócio que já foi de altas margens. Entretanto, os "computadores pessoais" de hoje são mais poderosos que os workstations de alguns anos atrás. A concorrência é forte pela parte de baixo, tendo que enfrentar projetos de menor custo baseados em chips x86 produzidos em maior volume. A Sun se viu obrigada a também produzir servidores usando x86 e virou uma companhia esquizofrênica, tendo que defender simultaneamente arquiteturas mais fechadas e alto custo e arquiteturas abertas de baixo custo.
  • Processadores: normalmente nós lemos a Lei de Moore como consumidores: "em 18 meses vou poder comprar uma máquina duas vezes melhor pelo mesmo preço". Para o desenvolvedor de processador, a leitura é outra: "daqui a 18 meses vou precisar vender um processador duas vezes melhor pelo mesmo preço". A pressão é brutal e o concorrente principal (Intel) amortiza grande parte do investimento em desenvolvimento e equipamento com linhas de altíssimo volume.
  • Sistemas Operacionais: a Oracle afirmou que a maioria das instalações do seu banco de dados roda sob Solaris, mas eu realmente gostaria de ver os números, de preferência de um instituto independente. Os demais *ix propietários sofreram muito com a concorrência do Windows e do Linux. A própria Oracle trombetava o seu Unbreakable Linux. A abertura da maior parte dos fontes do Solaris revela que a Sun está sensível à pressão do Linux.
  • Star Office: gostaria muito de ter uma idéia de qual a receita que a Sun obtem com este produto, num segmento dominado pela Microsoft e sendo derivado de um produto free (nos dois sentidos).
  • Java: é sem dúvida o grande sucesso da Sun em termos de software (mas não tão grande quanto os "Java-boys" imaginam). Restrições na licença o mantiveram fora das distribuições Linux até recentemente. Brigas com a Microsoft tiraram a JVM da Sun do Windows XP. A "iniciativa .Net" (com o C#) bloqueou em parte o avanço do Java na plataformas Microsoft. E não é aquilo que acionistas chamariam de uma fonte de lucro.
Sun e Oracle: Benefícios

Juntas, Sun e Oracle poderão oferecer soluções completas, num nível que somente a IBM forneceu no passado (talvez até mais, já que a Oracle tem soluções mais fortes de ERP que a IBM).

A Oracle apostou muito em Java e a compra da Sun evita as incertezas que surgiram se a Sun fosse comprada por outra empresa.

Sun e Oracle: Problemas

A Oracle é uma empresa de software e certamente vai sofrer tendo que manter uma operação de hardware. A oferta de hardware poderá também balançar a aliança da Oracle com outros fabricantes de hardware, levando-os a privilegiar outras opções.

A Oracle já anunciou metas de venda e lucro para as operações que eram da Sun. Cortes serão feitos para garantir o lucro. O que nos leva a um caso particular:

MySQL

Durante muito tempo eu sabia praticamente nada sobre MySQL, exceto que era usado largamente em aplicações Web, na chamada plataforma LAMP. E portanto eu tinha a imagem de um sistema de banco de dados free (nos dois sentidos) com os recursos tradicionais de outros sistemas profissionais.

Até o dia em que eu assisti a uma palestra em um evento Microsoft onde falaram barbaridades sobre o MySQL. E eu fui conferir e vi que, mesmo descontando os exageros, o MySQL tinha alguns pontos questionáveis.

O primeiro deles é que inicialmente não suportava recursos básicos de garantia de integridade, como chaves estrangeiras e transações. Dentro da arquitetura do MySQL estas funções estão em um nível chamado store engine. E as store engines que implementam estas características foram desenvolvidas por outras companhias que, não coincidentemente, foram adquiridas no passado pela Oracle (num lance considerados por muitos como um ataque FUD).

O segundo é que o MySQL utiliza licenciamento duplo: free dentro de certas condições e não-free dentro de outras. O mais estranho é que parece ser extremamente difícil cotar e adquirir a licença não free.

Tenho a desconfiança que a Oracle, que se orgulha de ter um banco de dados altamente avançado e eficiente, vai torcer onariz para o MySQL. Talvez o mantenha como um produto gratuito para dificultar a vida do MS SQL e outros, mas certamente farão campanhas de incentivo à migração do MySQL (frre) para o Oracle (pago).

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