quarta-feira, março 08, 2006

Delphi has left the building


A notícia é velha, mas só a vi agora; a Borland vai sair do mercado de IDE (Ambiente Integrado de Desenvolvimento) e está procurando um comprador para o Delphi, JBuilder e C++ Builder.

A Borland é uma empresa que nasceu mais ou menos na mesma época que o PC e nos anos 80 conseguiu criar uma imagem muito boa. Seus primeiros produtos (Turbo Pascal, Sidekick e SuperKey) logo se tornaram best sellers, com preços acessíveis (olhando numa revista de 86, o Turbo Pascal 3.0 custava $99.95 enquanto que o Microsoft C 4.0 custava $319) e o "Borland No-nonsense License" (trate o software como um livro). A Borland popularizou algumas categorias de software, como IDE (o Microsoft C 4.0 funcionava por linha de comando) e TSR (Terminate e Stay Resident).

No final dos anos 80, a Borland sonhou alto e lançou não somente outras linguagens (como o Turbo C, Turbo Prolog e até o Turbo Basic) como uma planilha (Quattro), um gerenciador de banco de dados (Paradox) e um editor de texto (cujo nome me falha). No começo dos anos 90 (antes do surgimento do Visual Basic, abrindo a programação Windows para todos), a Borland conseguiu a façanha de ter o melhor ambiente de desenvolvimento para o Windows 16 bits, com o Borland C++. Ainda nesta época, lançou o Turbo Pascal for Windows, que veio a se tornar o Delphi.

O Delphi sempre contou com características de respeito. Juntou à facilidade RAD do Visual Basic uma linguagem estruturada orientada a objeto. Fez a transição dos 16 para os 32 bits e, mais recentemente para o .Net (algo que o Visual Basic não conseguiu). Desde o começo foi capaz de gerar código nativo e de pequeno tamanho (para ter uma idéia, a primeira versão Windows do software de imposto de renda cabia num disquete, a versão deste ano tem 3 Mbytes). Até mesmo suporte a Linux o Delphi chegou a ter. Apesar disto, a popularidade do Delphi nunca foi imensa.

Embora ainda exista uma esperança da Borland voltar atrás (como foi na mudança de nome para Inprise) ou de achar um comprador que consiga pelo menos manter a base atual de fãs do Delphi, o mais provável é que o Delphi passe a ser um produto de nicho, se defasando ao longo do tempo. É claro que vai demorar muito para acabar (afinal, ainda vemos aplicações Clipper em uso), mas vai ser cada vez mais arriscado desenvolver em Delphi.

E com isto as opções para desenvolvimento de aplicações "nativas" ficarão ainda mais limitadas. Tirando as alternativas "livres", não sobra muita coisa além do Visual C++ da Microsoft. Para aplicações do tipo formulários + banco de dados, o futuro parece ser Java e .Net. Daqui a alguns anos, para usar o programa de imposto de renda muita gente terá que fazer um download de dezenas de megabytes para instalar a máquina virtual Java ou o framework .Net atualizado.

Um último ponto a pensar é a questão da influência do código "livre" na decisão da Borland. No caso do JBuilder, parece bastante claro que a Borland perdeu clientes para o Eclipse. Apesar do discurso anti-Microsoft de muitos proponentes do "software livre", as empresas menores e os produtos de nicho sofrem muito mais com esta "concorrência". E, como resultado, se acentua mais a concentração do mercado em um ou poucos produtos.

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