quinta-feira, novembro 26, 2020

Memórias dos Anos 80 - Nexus 1600, parte 5 (consequências)

 Apesar de todos os percalços, o Nexus 1600 foi apresentado na "Feira Internacional de Informática" (mais conhecida como SUCESU) de outubro de 1983 e "salvou" financeiramente a Scopus (pelo menos por alguns anos). Todos viveram felizes para sempre? Não exatamente...

O Nexus 2600, o sucessor do Nexus 1600

Uma primeira consequência (que eu considero positiva, mas isso é discutível) foi uma mudança organizacional na Engenharia, com a divisão por linhas de produtos (microcomputadores, terminais e  dispositivos para ligação a mainframes IBM, outros terminais).

A Scopus teve dificuldades em promover as vantagens do Nexus 1600 e os concorrentes conseguiram colar nele o rótulo de "incompatível". Em pouco tempo a liderança em vendas deste mercado era da Microtec, uma empresa nova cujos equipamentos não tinham grande inovações mas eram bastante confiáveis e compatíveis (na feira onde o Nexus 1600 foi lançado a Scopus tinha um estande grande com uma dezena de micros enquanto que a Microtec tinha um estande onde só cabia uma mesa onde estava um único micro - e desconfio que o teclado era importado).

Pouco menos de um ano após o lançamento do Nexus 1600 a IBM lançava o PC-AT, dando um pulo no desempenho (vou falar sobre o 80286 e o PC-AT no próximo post). A Scopus entrou uma fase de indefinições sobre o futuro. Se comentava que a Intel teria oferecido um projeto completo de uma placa mãe compatível com o PC-AT e muitos eram favoráveis a seguir esta linha ao invés de investir em um projeto próprio.

A maioria das pessoas não levava o SISNE a sério e as ideias de licenciá-lo para outros fabricantes nunca se concretizou. Alguns fabricantes anunciaram os seus próprios sistemas operacionais. Eu tive oportunidade de examinar somente um destes e o desassembly era muito igual ao do MS-DOS 2.0 (curiosamente, as diferenças eram pequenas otimizações, como retirar os NOPs gerados pelo assembler quando determinava no segundo passo que um desvio podia ser feito com a variante mais curta do JMP).

A grande equipe montada para o desenvolvimento do SISNE foi se desmontando e acabei me vendo praticamente sozinho tentando matar os bugs mais feios.

Apesar de todos os problemas com o hardware do Nexus 1600, somente em 1985 foi lançado um sucessor, o Nexus 2600 (apesar do 2, era um PC XT não um PC AT). O projeto foi tocado de forma bem discreta pelo meu colega do projeto de formatura, agora veterano das desventuras com o 1600. A primeira providência dele ao ser alocado para o projeto foi colocar na prateleira em cima da mesa um livro de ondas e linhas... A placa de sistema não teve os problemas de ruído e tinha um grande aperfeiçoamento: a seleção de clock entre 4.77 e 8MHz podia ser comandada por software, sem interromper o processamento. O BIOS permitia fazer essa mudança através de uma combinação de teclas. Somado a uma maturidade maior no desenvolvimento de aplicações, isto reduzia em muito as problemas de incompatibilidade. Uma melhoria invisível (mas polêmica, devido aos traumas com o MicroScopus) foi o reprojeto da interface de disquete. Além de eliminar o conector para os drives de 8", a parte analógica usava componentes mais novos que simplificavam enormemente a calibração na fábrica. Do ponto de vista externo, o que se observava era a adoção de unidades "slim" (ou meia-altura), o que permitira acomodar até quatro drives (entre disquetes, HD e fita) onde no Nexus 1600 só podiam ser colocados dois drives de disquete.

Não foi uma época muito agradável para mim no trabalho, o que acabou me levando a procurar outra opção. Na vida particular as coisas foram muito melhores: em 1984 eu me casei e, alguns meses depois, "ficamos grávidos".

2 comentários:

Shenandoah disse...

Meu caro, você tem alguma lembrança sobre o desenvolvimento do teclado do Nexus 1600? Ele não é compatível com o padrão XT da IBM. Gostaria de saber porque a Scopus optou por um protocolo diferente.

Daniel Quadros disse...

Não fundo acho que foi porque nós pensávamos que éramos mais espertos que os engenheiros da IBM... O teclado no XT usava um shift register (e mais outros circuitos) ligado à interface paralela, o do Nexus 1600 usava uma USART (uma solução mais limpa). Até que funcionava bem, exceto com softwares que queriam reiniciar o teclado (como certos sistemas operacionais). Eu pessoalmente acho que isto deveria ter sido revisto no Nexus 2600, quando a questão de compatibilidade estava mais clara, mas acho que não quiseram projetar um novo teclado.