domingo, setembro 25, 2016

Crítica: The E-Myth Revisited

The E-Myth Revisited é um livro sobre empreendedorismo em pequenas empresas, escrito por Michel Gerber. Não lembro onde vi a recomendação, mas recentemente comprei o eBook e li.



O "E-Myth"

O que o autor chama de E-Myth, ou "Mito do Empreendedor" é a crença de que toda empresa é fundada por um empreendedor. A teoria dele é que as pessoas possuem três personalidades parcialmente conflitantes:
  • O Empreendedor, que está sempre pensando no futuro, enxergando novas oportunidades
  • O Gerente, que está sempre olhando o passado e vendo como organizar e sistematizar o que foi feito
  • O Técnico, que está trabalhando no presente
O surgimento de uma empresa é quando momentaneamente a personalidade de empreendedor se destaca das demais. Porém, tipicamente o fundador seria 10% Empreendedor, 20% Gerente e 70% Técnico. Com o passar do tempo a personalidade técnica se sobrepõe e o negócio acaba virando um emprego para o dono. Talvez a explicação correta não seja esta, mas não é incomum ver este resultado - donos desanimados trabalhando muito.

A solução proposta por Gerber vem de um modelo no mínimo inesperado: McDonald's. Mais que hambúrgueres, o McDonald's é conhecido (nos meios empresariais) como a melhor expressão da força do "Processo". Anos de estudos resultaram em equipamentos e procedimentos documentados que garantem uma uniformidade de operação praticamente independente da mão de obra. O McDonald's criou a "franquia perfeita": licencie o processo, siga à risca e o lucro está garantido.

O que Gerber sugere (e a sua empresa de consultoria vem ajudando empresários a fazer) é organizar a sua empresa como se você fosse torná-la uma franquia. Isto é, crie e documente os melhores procedimentos segundo a sua visão e faça a sua empresa operar conforme eles. Estes procedimentos devem ser continuamente monitorados e aperfeiçoados. A maior parte do livro é a descrição das várias etapas para chegar a isto.

Num primeiro momento esta solução parece totalmente absurda. Fica a sensação de ter uma empresa altamente engessada produzindo hambúrgueres com gosto de papelão. Mas, pensando um pouco, existem alguns aspectos atraentes, particularmente a ideia de conseguir obter resultados dentro do seu padrão sem que você precise colocar pessoalmente a mão em tudo.

Eu me pergunto se isto se aplica a todo tipo de empresa e quanto é afetado pelas mudanças no mundo (o livro foi originalmente escrito quase três décadas atrás). Quanto mais uma empresa depende de criatividade, mais difícil me parece criar procedimentos "infalíveis". Eu fico imaginando como seria um manual para que desenvolvedores fizessem toda vez softwares exatamente da forma que eu considero ótima.

Me parece também que nos anos recentes "uniformidade" perdeu terreno para "unicidade". Consumidores e empresas parecem cansados de empregados "robotizados" seguindo scripts e produtos genéricos sempre iguais. Espontaneidade, personalização e um certo elemento de surpresa tem os seus atrativos.

O Livro

Uma das críticas recorrentes a este livro é ser repetitivo. Realmente Gerber bate várias vezes nos mesmos pontos. Cada ideia é apresentada, repetida em mais detalhes e exemplificada. Aliás, esta parece ser a principal mudança desta edição "revisitada": um exemplo seguido do início ao fim do livro. Esta repetição não acrescenta muito e depois de alguns capítulos o entusiasmo excessivo da empreendedora fictícia do exemplo começa a soar falso e, mais adiante, irritante.

Outro ponto que eu não gostei é dar Nomes Destacados a vários detalhes (com maiúsculas e tudo). A maioria destes nomes não fazem parte do jargão costumeiro (ou seja, não pegaram) e ocasionalmente até conflitam com definições mais usuais.

Veredito

Leitura recomendada, se você aguentar o estilo. Não concordo com tudo o que é dito, mas várias ideias merecem reflexão e a leitura deste livro pode levar a isto.

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