domingo, julho 22, 2012

Critica: No Dice e Straight Up do Badfinger

No começo de 1970, o Badfinger parecia estar no caminho do sucesso. Contratados pela Apple Records, a gravadora dos Beatles, emplacaram seu primeiro hit - "Come and Get It", composta e produzida por Paul McCartney para o filme "The Magic Christian". Isto levou ao álbum "Magic Christian Music", que continha principalmente gravações antigas do Badfinger (quando o grupo ainda tinha outro nome).

Resenho aqui os álbuns seguintes, No Dice e Straight Up, que foram provavelmente o ápice do Badfinger e levaram críticos a apontá-los como sucessor dos Beatles. Infelizmente, problemas financeiros e mortes trágicas iriam interromper esta sequência de sucessos.



No Dice

Este foi o primeiro álbum que o grupo gravou como Badfinger e com a formação que se tornaria clássica: Pete Ham (guitarra e vocais), Tom Evans (baixo e vocais), Joey Molland (guitarra e vocais) e Mike Gibbins (bateria). A produção foi inicialmente de Mal Evans (assistente dos Beatles a responsável pela contratação do grupo pela Apple). A direção da Apple não ficou totalmente satisfeita com os primeiros resultados e substituiu Evans por Geoff Emerick (que foi o engenheiro de som de vários álbuns dos Beatles).

O álbum abre com a enérgica "I Can't Take It", que é seguida pela balada "I Don't Mind" (com um leve toque psicodélico no eco dos vocais).

O Badfinger sempre se sentiu incomodado com as comparações com os Beatles, mas precisavam compor uma música chamada "Love Me Do"? Trata-se, entretanto, de uma música com raízes roqueiras e não bluseiras (como a música de mesmo nome dos Beatles).  Segue-se uma nova balada, "Midnight Caller", com vocais competentes de Pete Ham.

"No Matter What", que toca nas rádios até hoje, é considerado o exemplo perfeito do "power pop":   melodia forte, harmonias vocais e destaque para guitarras distorcidas. Os vocais lembram, é claro, os Beatles. A produção é de Mal Evans e é difícil acreditar que não foi considerada pelos executivos da Apple boa o suficiente para um single.

Você, saiba ou não, conhece "Without You". Provavelmente a versão mais orquestrada de Harry Nilsoon ou a regravação mais recente de Mariah Carey. A versão do Badfinger me parece mais pungente e tem um belo acompanhamento de órgão no final. A música foi composta por Ham e Evans, no melhor estilo Lenon & McCartney - juntando ideias de duas composições independentes.

Abrindo o lado dois (algum lembra que LP tem dois lados?), uma música mais para o country, "Blodwyn", que é  a que gosto menos no disco. "Better Days" também não é muito do meu gosto mas tem guitarra solo legal.

"It Had To Be" é outra balada, desta vez composta por Gibbins. "Watford John" é um sólido rock and roll. "Believe Me"é mais uma balada.

O álbum original fecha com "We're for the Dark" uma bela balada marcada pelo violão e voz do Pete Ham.

O álbum foi mais recentemente remasterizado e acrescido de trilhas bonus. 

Straight Up

Este álbum também teve uma história complicada de produção. Uma primeira versão foi feita por Geoff Emerick, mas George Harrison achou que conseguiria fazer algo melhor. Entretanto, ele interrompeu a produção devido ao Concerto para Bangladesh. Para concluir o disco foi chamado Todd Rundgren. O disco final foi mixado por Rundgren mas usa gravações feitas pelos três produtores. O resultado é um álbum mais "pasteurizado" que No Dice, com uma maior uniformidade sonora.

A abertura é a balada "Take It All". "Baby Blue" é outro power pop clássico. "Money" e "Flying" são duas músicas ligeiramente psicodélicas.  "I'd Die Babe" é um "roquinho" competente.

"Name of The Game" é uma balada dominada por um piano e belos vocais de Pete Ham. É daquelas que ficam grudadas no ouvido da gente.

"Suitcase" é outro rock competente. "Sweet Tuesday Morning" é uma bela balada.

"Day After Day" é, provavelmente, o ponto alto do disco. George Harrison participa com na guitarra slide, gravada junto com Pete Ham. O vocal é de Ham, com belas harmonias vocais.

O ritmo acelera um pouco com "Sometimes". "Perfection" é outra bela música com base no violão e na voz de Pete Ham. "It's Over" dá o fecho no álbum.

Novamente, o álbum está atualmente disponível em versão remasterizada, com faixas extras.


A Tragédia do Badfinger

O Badfinger nunca esteve totalmente satisfeito com a atenção dada a eles pela Apple e isto só piorou na confusão que se seguiu após a separação dos Beatles. Entre os dois álbuns, o Badfinger assinou com um novo empresário, Stan Polley, que acertou um contrato deles com a Warner Bros. Um primeiro resultado disto foi o lançamento do último álbum pela Apple (Ass) poucos meses antes do primeiro pela Warner (Badfinger); ambos os álbuns não tiveram boa repercussão na crítica.

O álbum seguinte, Wish You Were Here, foi melhor recebido pela crítica. Entretanto, foi recolhido das lojas pela Warner sete semanas após o lançamento, com acusações de desvio de verbas pelo Polley. Polley suspendeu então os pagamentos ao Badfinger (espertamente ele os pagava um salário fixo ao invés de uma parcela das vendas dos discos). O Badfinger não conseguia também fazer shows, devido ao enrosco legal e os contratos restritivos assinados com Polley.

Pete Ham tinha acabado de comprar uma casa e sua namorada estava grávida. A pressão financeira foi demais para ele e em abril de 1975 se suicidou na garagem da sua casa. Tom Evans nunca se recuperou totalmente disto e em 1983 também se suicidou em meio a complicações financeiras.

Veredito

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