O Lado Negro do Kindle
Um aspecto me fez pensar muito antes de comprar o Kindle: o fato dos livros serem protegidos por DRM. A minha preocupação naquele momento era que a Amazon desistisse do Kindle ou que algum concorrente lançasse um aparelho muito melhor e eu ficasse micado com um monte de livros que eu não poderia ler. Esta preocupação foi minimizada com o lançamento dos aplicativos Kindle para PC e Android; a qualidade da tela e a praticidade do Kindle ganharam fácil dos receios.
Um artigo sobre a estratégia da Amazon me abriu os olhos para uma outra consequência do DRM: uma ajuda a mais para a Amazon obter um monopólio do mercado. As editoras queriam DRM e a Amazon o forneceu, mas o resultado é que só a Amazon gera eBooks protegidos para o Kindle. Cabe notar que o dono de um Kindle pode comprar eBooks de outras fontes, mas somente se ele não tiver DRM. Portanto, para vender eBooks para os usuários de Kindle as editoras tem duas opções: vender pela Amazon ou abrir mão do DRM.
A Amazon contou também com o fato das editoras adotarem para os preços dos eBooks o mesmo esquema que para os livros "físicos". Os preços tem um preço sugerido (o "preço da capa"), o distribuidor compra com um desconto e pratica o preço que desejar. O desconto é função basicamente do volume de compra. O resultado é que um distribuidor grande compra por preços mais baixos que os menores e pode vender por menos para o usuário final.
Cria-se assim um ciclo vicioso onde a Amazon vende por preços menores por que vende mais unidades e vende mais unidades por (entre outras coisas) ter o preço menor. Este esquema começou a rodar quando a Amazon começou a vender livros físicos pela internet (reduzindo estoques e eliminando um elo da cadeia). Na hora de lançar os eBooks o momento dos livros físicos deu o empurrão inicial.
A Apple e a Fixação de Preços
Com o lançamento do iPad, a Apple desejava criar um negócio de venda de livros tão bem sucedido como o iTunes era para a música. Obviamente o esquema da Amazon era um problema. A solução foi propor para as editoras um esquema diferente, o chamado "agency model". Neste esquema a editora fixa o preço de venda ao usuário final e o distribuidor negocia a porcentagem que ele recebe deste valor.
O usuário final sai prejudicado: ele não encontra mais livros com desconto. Os grandes distribuidores podem negociar boas margens e continuar tendo bons lucros. A diferença é que é mais fácil um distribuidor novo entrar no mercado (desde que tenha reservas para atravessar o período inicial onde as margens são baixas). A viabilidade de vários distribuidores diminui a pressão sobre as editoras por descontos altos.
É claro que governo e órgãos de defesa do consumidor não aceitaram a fixação de preços, apesar de não ser uma prática inédita no mercado editorial.
Abrindo Mão do DRM
O artigo que citei no começo sugere como saída para as editoras abandonar o DRM. A BAEN Books pratica isto com relativo sucesso, e até distribui eBooks grátis.
Uma das grandes editoras de livros de ficção científica pretende seguir o mesmo caminho.
Leitores de eBooks, Tablets e Android
Junto com o crescimento dos eBooks temos a ascensão dos dispositivos de leitura. Inicialmente estes dispositivos eram altamente específicos, inclusive em termos de plataforma de software. Entretanto começa a existir um intersecção crescente com os tablets, com o surgimento de leitores como o Nook e o Kindle Fire. Este último, inclusive, teve fortes vendas no período do Natal, assumindo temporariamente a liderança de dispositivos Android com formato de tablet.
Isto não é exatamente uma boa notícia para o Android, já que o Kindle é uma derivação do projeto do Android e não utiliza os serviços da Google, particularmente o
Já tem gente enxergando que a Google perdeu o controle sobre o Android.
Enquanto isto, a Barnes&Nobles se ve acuada tanto no mercado de lojas físicas como no de eBooks e decidiu separar a área de negócios do Nook e fechou uma parceria com a Microsoft. Aliás, eBooks parece ser um outro segmento que a Microsoft atacou no passado mas ficou de fora quando deslanchou. É um grande mistério o quanto a Microsoft vai influenciar na plataforma do Nook, será que vão substituir o Android pelo Windows Phone ou pelo Windows 8?
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