domingo, maio 31, 2009

Livro de Maio: Tintin - The Complete Companion

As aventuras de Tintim encantam pessoas desde 1929. Em "Tintin - The Complete Companion", Michael Farr disseca um a um os álbuns escritos por Hergé, descrevendo as fontes das imagens no mundo real, as condições em que eles foram escritos e algumas curiosidades.



Um livro de porte

A Amazon (como as demais livrarias virtuais) apresenta as imagens das capas "chapadas" (vista frontal perpendicular) e com tamanho normalizado. Isto tem me trazido várias surpresas, uma vez que não costumo prestar atenção aos dados de dimensão e número de páginas. The Complete Companion é um exemplo disto. É um livro de páginas grandes, um pouco maior que uma folha A4 ou que um álbum do Tintim, com capa dura (coberta por uma sobrecapa) e 200 páginas. Como merece o assunto, possui uma quantidade muito grande de ilustrações (ocupando mais de metade do espaço das páginas), grande parte colorida.

A qualidade é bastante inesperada para um livro com preço de US$20 .

Uma abordagem muito completa

O livro aborda os 24 álbuns disponíveis, de "Tintim no País dos Sovietes" (que Hergé descartou posteriormente como uma tolice de juventude) a "Tintim e a Alfa-Arte" (incompleto e publicado após a morte de Hergé).

Embora não se trate de uma biografia (que o autor escreveu posteriormente), é apresentado um resumo da situação de Hergé quando da escrita de cada álbum.

São também discutidas as diferenças entre as publicações seriadas (inicialmente no Le Vingtième Siècle, depois no Le Soir e finalmente na Revista Tintin) e as várias edições dos álbuns (inclusive diferenças de nomes entre as versões belgas e inglesas).

O mais interessante, entretanto, são as comparações entre os desenhos dos álbuns e as imagens ou fotos que os inspiraram. O detalhismo e a preocupação com a realidade sempre foram uma marca registrada de Tintim e o livro mostra os extremos a que Hergé foi para garantir isto.

Polêmicas

Hergé e Tintim não escaparam de algumas polêmicas ao longo dos anos, que o livro aborda com detalhes.

comentei a crítica ingênua e estereotipada ao comunismo em "Tintim no País dos Sovietes". Os dois livros seguintes, "Tintim no Congo" e "Tintim na América", foram criticados por terem um visão colonialista e racista. Por exemplo, em "Tintim no Congo" Tintim dá uma aula de geografia falando sobre "a pátria de vocês: a Bélgica!". Por outro lado, as pessoas supostamente vítimas deste racismo sempre manifestaram seu gosto por Tintim. Mais ironicamente ainda, quando os álbuns foram publicados nos EUA as editoras exigiram que fossem alteradas cenas que mostravam brancos e negros juntos.

Na época destes álbuns Hergé trabalhava no Le Vingtième Siècle que tinha uma linha bastante conservadora. Com a invasão da Bélgica pela Alemanha durante a Segunda Guerra, o Le Vingtième Siècle foi fechado. Hergé foi então trabalhar no Le Soir, que se comportava como um jornal oficial dos alemães. Isto rendeu-lhe a acusação de colaborador (e até de nazista) após a derrota dos alemães.

Novamente a censura foi irônica: "Tintim na América" e "A Ilha Negra" foram censurados pelos alemães por conter referências aos EUA (na verdade não exatamente elogiosas) e à Inglaterra, porém "O Cetro de Ottokar" foi liberado apesar de ser uma crítica nada velada à política expansionista dos alemães no pré-guerra. Outros álbuns anteriores eram também críticos ao imperalismo do "eixo": "O Loto Azul" critica o Japão e na "A Ilha Negra" o vilão é um alemão imprimindo notas falsas para enfraquecer a Inglaterra. A invasão da Bélgica obrigou Hergé a interromper "Tintim no País do Ouro Negro" que tinha como trama um plano alemão de sabotar os combustíveis para enfraquecer os demais países europeus.

Em "Perdidos no Mar" Hergé denuncia a exploração e escravidão dos negros africanos, porém viu-se atacado pelo fato dos negros serem apresentados falando um fancês cheio de erros.

Veredito

Se você é fã de Tintim e tem fluência em inglês, recomendo fortemente este livro. Ele dará uma dimensão a mais aos álbuns, revelando detalhes e colocando-os em um contexto maior. E o deixará de queixo caído ao comparar os desenhos com as fotos que os inspiraram.

Um comentário:

breno faria disse...

E aí Daniel, tudo bem?
Até ler sobre o Tintin no seu blog, não sabia da importância histórica destes quadrinhos. Na infância, era fã do desenho animado que passada na TV, mas não me lembro o nome correto da série.

Hoje assisti no site da BBC uma reportagem sobre o museu do Tintin em Louvain-la-Neuve, na Bélgica.

O link para a reportagem está aqui: http://www.bbc.co.uk/portuguese/multimedia/2009/05/090526_tintinmuseu_video.shtml

Grande abraço

Att.
Breno