A notícia mais comentada na semana passada, apesar de totalmente vazada previamente, foi o lançamento oficial do "Nexus One", o celular que está sendo comercializado pela Google. Mais importante que as descrições do que é o Google Phone são as tentativas de imaginar o impacto de seu lançamento. Esta é a minha.
Devo esclarecer que não sou um usuário de smartphone. Nem mesmo sou usuário muito ativo de celulares, estando no meu terceiro aparelho (do ponto de vista "lógico"; fisicamente é o quarto mas a última compra foi igual à penúltima e motivada por roubo). Todos os aparelhos eram pré-pagos e na faixa de R$150,00.
Acompanho os smartphones à distância e tenho tido constantes surpresas. No início a Palm (ou mais precisamente, a Handspring) apostava em uma solução mais minimalista, centrada na simplicidade de uso e orientada pelas limitações dos equipamentos. Já a Microsoft, com o Pocket PC e depois o Windows Mobile, tomou como modelo o Windows usado nos desktops. E a Microsoft ganhou esta briga.
A grande revolução nos smartphones foi o iPhone. Além dos cuidados habituais com design, típicos dos produtos da Apple desde a volta de Steve Jobs, o iPhone trouxe recursos de hardware e software incomuns naquela época, como o multi-touch e o sensor de movimento. A interface com o operador é ao mesmo tempo intuitiva e deslumbrante. A força é forte neste dispositivo. Me refiro à força do campo de distorção de realidade; poucos usuários do iPhone aceitam a menção aos compromissos de projeto (como a bateria não acessível pelo usuário), o preço elevado para um aparelho bloqueado ou o controle rígido da Apple à distribuição de aplicativos (algo que merece um post separado). Independente de tudo isto, o iPhone é claramente o atual rei dos smartphones e todo lançamento é inevitavelmente comparado a ele.
Quando a Google anunciou o projeto Android eu achei que estavam entrando em uma fria. O mercado de firmware para smartphones é radicalmente diferente da área normal de atuação da Google, a web (por exemplo, os softwares são atualizados frequentemente na web enquanto que uma linha de produção requer versões estáveis e o custo de suporte a múltiplas versões e atualização de equipamentos é sempre uma preocupação). O anúncio da Open Handset Alliance não me empolgou, já que é comum empresas grandes colocarem o seu nome em iniciativas deste tipo mais como uma aposta secundária e uma forma de aparecer na imprensa do que pela intenção de participação ativa.
Igualmente, os primeiros telefones com Android não entusiasmaram. Entretanto o sistema continuou a evoluir e novos telefones foram sendo lançados. A HTC foi uma que surgiu com aparelhos interessantes. O grande anúncio do ano passado (na minha opinião, é claro) foram os modelos da Motorola que, embora ainda não alcancem o iPhone, renovaram o interesse pela marca.
Com a clara incapacidade do Windows Mobile de alcançar o iPhones no curto prazo, cada vez mais fabricantes vem anunciando modelos baseados no Android. Da minha previsão de problemas com excesso de versões, a única coisa até agora foram algumas pequenas reclamações de desenvolvedores sobre as dificuldades em suportar todos os modelos disponíveis.
Foi neste ponto que a Google lançou o "Nexus One".
Do ponto de vista de hardware, nenhuma grande novidade. Componentes equivalentes são encontrados em outros smartphones high-end. A versão do Android é um pouco mais recente que a dos lançamentos anteriores, mas isto não acrescenta nenhuma funcionalidade irresistível. As análises até agora falam em um bom aparelho, próximo ao nível do iPhone mas certamente não acima. O preço do aparelho desbloqueado é alto e por enquanto está disponível somente uma opção de operadora nos EUA. Um ponto curioso é que embora o hardware, o sistema operacional e algumas aplicações de terceiros suportem multi-touch, as aplicações da Google não. As especulações a respeito variam de preocupações com patentes da Apple a uma conspiração com a Apple para manter os produtos diferenciados.
A grande questão é que com este lançamento a Google está concorrendo diretamente com os seus "clientes" (as empresas que estão usando o sistema Android). Por um lado ela tenta minimizar isto, mas por outro ela fala no Nexus One como sendo o único superphone, a experiência completa, etc. De repente, todos os telefones Android anteriores estão incompletos e obsoletos.
E concorrer com a Google não será fácil. Basta ver como o anúncio da Google reduziu outros anúncios da área ao nível de ruído na semana passada. Quanto vale um pequeno link para a loja da Google na página www.google.com?
E é na loja onde encontramos algo realmente novo. Não a loja em si, já que comprar telefone pela web vem de muito longe. Não a aparência da loja ou o processo de compra, embora mereça destaque que hoje a loja tem somente um produto e é obrigatório ter um Google ID para fazer a compra. A novidade é que, pelo menos no momento, o telefone é vendido somente na loja. Ou seja, a Google tem total exclusividade na sua comercialização. Alguns enxergam isto como a Google dizendo a todo mundo: "não preciso de vocês".
Me parece muito improvável que os usuários de iPhone troquem seus aparelhos por um Nexus One. Acredito até que a maioria que for comparar um iPhone com o Nexus One vai optar pelo iPhone. Por outro lado, quem estiver a fim de comprar um telefone Android deixará de comprar o "artigo verdadeiro"? Desconfio que os compradores do Nexus One serão primeiro os que já optaram por Android e segundo os que não optarem pelo iPhone. Se eu estiver certo, quem verá suas vendas afetadas não será a Apple mas sim os parceiros da Google e os demais fabricantes.
Embora até agora as reações tenham sido discretas e diplomáticas, é certo que todas as empresas do setor devem estar debatendo internamente qual será o impacto e para onde correr. Não será surpresa vermos algumas mudanças de rumo nos próximos meses.
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