sábado, abril 18, 2009

Livro de Março: O Mistério da Ilha da Cabana

Já mencionei anteriormente a série juvenil Hardy Boys. Neste post vou comentar sobre três edições distintas do livro O Mistério da Ilha da Cabana.

Os Hardy Boys e Eu

Conheci os Hardy Boys em 1972, quando a Abril começou a publicar quinzenalmente a série. No começo eu não estava muito interessado e li os primeiros volumes mais por insistência do meu pai. No terceiro volume eu já estava fisgado.

O oitavo volume, O Mistério da Ilha da Cabana, é um dos meus favoritos. Talvez seja o ambiente bem diferente do que estamos acostumados (neve e gelo), a ideia de ficar acampado com amigos em uma cabana em uma pequena ilha ou o pequeno mistério em si (que inclui uma mensagem em código). Segundo a Wikipedia e esta página, não estou sozinho nesta preferência.

Vários meses mais tarde, a Abril interrompeu a série no décimo-oitavo volume. A contracapa trazia sempre um resumo do próximo livro, no último estava escrito simplesmente "com este volume se encerra a série".

Posteriormente achei volumes em inglês em uma livraria especializada em livros importados. Para minha alegria, a relação no final dos livros mencionava 57 volumes. Entretanto, naquele tempo livros importados eram raros e caros. Existia o infame "dolar livro": o preço era calculado multiplicando o preço da capa pela cotação do dolar e por dois. Além disso, a escolha ficava limitada à meia dúzia de volumes disponíveis na prateleira. Além da edição americana, tinha também a edição inglesa, que saia um pouco mais em conta.

Uma segunda opção para obter os livros eram as "vendas de garagem". Após algumas compras me deparei com um pequeno mistério: os livros que eu conhecia tinham todos exatamente 20 capítulos, porém um exemplar bem antigo tinha 25. Um segundo mistério era a longevidade da série: enquanto os volumes mais antigos eram de 1920, os mais novos eram de 1970. E todos com o mesmo autor: "Franklin W Dixon".

A minha coleção foi sendo ampliada aos poucos e finalmente concluída graças à Amazon.

A Solução do Mistério de Franklin W Dixon

Foi somente com a internet que eu soube a história completa. Os Hardy Boys foram criados por um sujeito chamado Stratemeyer que contratava ghostwriters para escrever os volumes a partir de sinopses de uma ou duas páginas. Os primeiros volumes foram todos escritos pela mesma pessoa, um escritor canadense que ganhava apenas o suficiente para obter comida e lenha para sobreviver.

No começo os livros tinham todos 25 capítulos. A partir de 1959 os primeiros 38 volumes passaram por uma revisão. O objetivo principal era retirar referências anacrônicas, particularmente o que chamaríamos hoje de politicamente incorreto. Entretanto, as histórias foram também reduzidas para 20 capítulos e na maioria dos casos alteradas. Como veremos adiante, o Mistério da Ilha da Cabana recebeu a adição de subtramas que, no geral enriqueceram a história.

De 1991 a 2007 a editora Applewood Books publicou edições faccimile dos primeiros dezesseis volumes, reproduzindo textos e ilustrações das ediçes originais.

A Versão Original

A versão original, com seus 25 capítulos, conta a história de uma forma mais lenta e com uma prosa um pouco mais elaborada. A história se centra na trama principal. A cifra utilizada é bastante simples, mas bem racional. Procurando no texto algumas palavras óbvias (cribs) a decifração será imediata.

O texto não me pareceu conter expressões arcaicas, percebi somente a grafia 'to-morrow' ao invés de 'tomorrow'. Do lado do "politicamente incorreto", talvez surpreenda os Hardys ganharem espingardas de Natal e mais ainda as usarem para abater duas raposas ladrões de galinha (em algo sem conexão com a trama). A propósito, na versão original os Hardys tem 15 e 16 anos.

O livro possui somente uma ilustração, no início do livro e de traços sofisticados. A ilustração na capa tem uma aparência antiga.

A Versão Revisada

Embora o texto da versão revisada seja menor, foram acrescentadas duas subtramas. Uma delas (o neto desaparecido) abre espaço para um final um pouco mais elaborado. O resultado é um texto mais conciso e recheado de ação. Por exemplo, as férias na Ilha da Cabana já estão decididas no primeiro capítulo da versão revidada mas somente no quarto capítulo da edição original.

O alvo do mistério muda em relação à versão original, assim como a cifra. A nova cifra é um pouco boba e de praticidade discutível, porém pode também ser resolvida através de cribs.

No lugar das espingardas, os Hardys ganham uma máquina fotográfica instantânea, apesar de aqui já terem 17 e 18 anos.

O livro possui algumas ilustrações, inclusive uma que ocupa duas páginas (uma delas com um pouco de texto). A ilustração da capa tem uma aparência um pouco mais moderna.

A Versão Brasileira

Para minha surpresa, a tradução da Abril segue fielmente a versão revisada. A cifra segue a mesma linha, porém com o texto traduzido.

O livro também possui algumas figuras, que me parecem um pouco mais toscas. A capa tem um jeitão meio psicodélico e tropical (esqueceram da neve!).

2 comentários:

Wanderley Caloni disse...

Olá!

Tenho que comentar o fato que seus artigos literários são tão ou mais bem escritos que os artigos técnicos. São praticamente uma pequena viagem em outra atmosfera, exatamente como os livro que costuma comentar.

A respeito do to-morrow, ele também foi usado no livro "Reminiscences of a Stock Operator", de 1923, além de mais alguns termos e expressões que não vou me lembrar agora.

Algumas mudanças tipográficas aconteceram provavelmente na década de 30, pois outro livro de Gerald Loeb, uma série de artigos iniciando em 36, já possui expressões e termos mais modernos (ambas as edições dos livros que li não estavam re-revisadas).

[]s

Daniel Quadros disse...

Caloni,

Você me deixa vermelho com este elogio...

[]s