quinta-feira, maio 07, 2020

Memórias: O Começo

Uma poucas vezes (no começo deste blog) eu relembrei coisas do meu passado. Resolvi agora fazer isto de uma forma um pouco mais sistemática, tentando seguir uma ordem cronológica. A enfase será na parte mais técnica da minha vida, mas neste começo vou lembrar um pouco como era a vida nos anos 60 e 70. Segundo Lemony Snicket, os pontos onde as histórias começam e terminam são arbitrários. Portanto, arbitrariamente, é aqui que começo as minhas memórias.


Se aproximando dos quarenta anos, o meu pai era um solteirão. Formado em engenharia química, depois de aventuras anteriores, foi parar no ITA. Acho que foi lá que se interessou por Física e decidiu fazer pós graduação em Harvard, nos EUA. Antes de viajar, foi em um curso em Niteroi, conheceu uma moça bem mais nova e poucos meses depois o meu futuro padrinho estava assinado por procuração o casamento dos dois enquanto o meu pai iniciava o mestrado e procurava um apartamento. Uns dez meses depois eu nasci.

Não, não lembro nada desta época. Mas o meu pai comprou uma filmadora de 8mm (Super 8 ainda não existia) e enviava periodicamente filmes para a minha vó (e algumas fotos). Quando voltou ao Brasil, meu pai recuperou os filmes e o projetor e uma das minhas diversões de infância era ver aquelas imagens estranhas.

Dois anos e meio depois do meu nascimento, meu pai voltou ao Brasil, com um emprego na USP com a missão de criar um laboratório de baixas temperaturas. Uma curiosidade é que o meu pai despachou por navio um monte de coisas, inclusive o Studebaker 54 que ele tinha comprado usado nos EUA (este carro ficaria com ele até perto de chegar aos 20 anos de vida, quando foi vendido para um ferro velho).

Com as suas economias, meu pai deu entrada num sobrado localizado, aproximadamente, entre o Borba Gato e o Rio Pinheiros. A rua era de terra e não tinha esgoto. Poucos anos depois a rua foi asfaltada e, em seguida, esburacada e remendada para colocar o esgoto. A minha vó paterna morava no centro, próximo à Santa Casa. Ela costumava nos visitar aos domingos e ao ir embora dizia que estava "voltando para São Paulo".

A infância nos anos 60 era bem diferente de hoje. Os brinquedos eram mais simples, dava para contar os canais da TV nos dedos de uma mão. Coisas que lembro da TV foi a estreia da TV Bandeirantes, o início de Perdidos no Espaço e o pouso na Lua. A nossa TV era americana (Zenith), obviamente a válvula e preto e branco. Meu pai não era fã de TV e nossa primeira TV a cores (já nos anos 70) foi um presente de uma amigo dele.

As crianças saiam sozinhas na rua desde pequenas. Mais para frente, com a bicicleta, dava para ir bem longe (uma das minhas aventuras foi ir de bicicleta até o Shopping Iguatemi pela já asfaltada mas ainda não inaugurada Marginal Pinheiros).

A região próxima de casa, ondem hoje existe o Shopping Morumbi era um brejo. Um rio passava onde hoje estão as avenidas Roque Petronio Jr e Berrini (ele ainda insiste em voltar quando chove forte). Uma pontezinha de madeira levava à fábrica da Kibon. Aliás grande parte da região era industrial.

Com o final dos anos 60 eu iniciei uma nova fase na vida, ao entrar no ginásio (5a série para vocês). Mas isso fica para o próximo post.

2 comentários:

Rodrigo Feliciano disse...

Eita, podia ser mais comprido o post. Gosto de histórias assim.

Daniel Quadros disse...

Calma que vai ter muito mais...