Resenha: Von Braun - Dreamer of Space, Engineer of War

Wernher von Braun foi um dos personagens chaves do início da "Era Espacial". Foi também (e continua sendo) uma figura controversa. Como diz o livro a certa altura, "ele apertou as mãos de Eisenhower, Kenedy, Johnson e Nixon; mas também as mãos de Hittler, Himmler, Göring e Goebbels".

Michel J Neufeld (curador do Smithsonian's National Air and Space Museum, onde aliás eu comprei este livro cinco anos atrás) escreveu este livro após um grande esforço de pesquisa e claramente se esforça em fornecer uma visão balanceada de von Braun. Neste sentido ele se refere a von Braun como um Fausto - alguém que vendeu sua alma ao diabo para atingir interesses que considerava nobre.

Von Braun pertenceu a uma família nobre (da onde vem o "von") e conservadora. Parece indiscutível a sua postura aristocrática, conservadora e patriota (primeiro com a Alemanha e depois com os EUA). Desde criança mostrou interesse pelo espaço. Para encarar as dificuldades e os custos do desenvolvimento de foguetes não hesitou em trabalhar no desenvolvimento de armas para o Exército, durante o regime nazista.

O livro retrata von Braun não como um cientista brilhante, mas como um engenheiro com uma imensa capacidade em gerenciar projetos imensos. O ápice do seu trabalho na Alemanha foi o desenvolvimento e produção da V2, algo que foi bastante complexo tanto em termos técnicos como políticos. A V2 acabou tendo apoio forte do governo somente quando a derrota era inevitável, graças às ilusões do alto comando de que ela iria mudar o desfecho da guerra (este apoio foi considerado posteriormente um grande erro).

Na barganha com o diabo, von Braun se associou à SS, conviveu com a fabricação das V2 por prisioneiros em condições desumanas e se tornou responsável indireto pela morte das milhares de vítimas das suas bombas.

Ao se dar conta da derrota iminente (e já desencantado há muito tempo com o governo nazista), von Braun liderou a rendição aos americanos. Após um processo complicado, ele e seus colegas foram aceitos como imigrantes nos EUA. Novamente ele se aliou ao Exército. A situação entretanto, era bem mais complexa, com uma forte concorrência entre Exército, Marinha e Aeronáutica pelo controle dos projetos de foguetes e mísseis. Ao mesmo tempo, o povo americano, cansado da longa guerra, exigia a desmobilização das forças armadas e a redução do respectivo orçamento. É neste ponto que von Braun se dedica à propaganda de um programa espacial. Escreve um livro, participa de uma série de artigos em uma revista e até de episódios de TV dos Estúdios Disney.

O que leva ao investimento americano em foguetes, entretanto, é a Guerra Fria. Após o lançamento do Sputnik pelos russos e alguns fracassos vexatórios dos americanos, von Braun tem participação decisiva no lançamento do primeiro satélite e do primeiro astronauta americanos e se torna um herói. Apesar disto, sua participação no projeto espacial americano fica incerta até a decisão do desenvolvimento dos foguetes Saturno para o projeto Apollo. Chega assim ao seu auge, o desenvolvimento do monstruoso Saturno V, com um incrível histórico de nenhuma falha grave em seus lançamentos.

Após o pouso na Lua, o interesse americano pelo espaço desaparece. Von Braun é afastado do trabalho de gerenciamento e passa a trabalhar na NASA no que planejamento de missões futuras. Os sucessivos cortes de orçamento tornam o trabalho cada vez mais irrelevante e frustrante. Quando finalmente sai da NASA para trabalhar em um empresa privada, sua saúde começa a decair.

Tudo isto está descrito em detalhes no livro, com fatos, nomes e datas. Em alguns momentos o livro me pareceu maçante com os detalhes das politicagens.

Veredito

Recomendado.

O ponto que muitos considerarão crítico é o julgamento moral de von Braun. Neufeld não inocenta von Braun, mas também não o condena de forma inequívoca. A associação à SS pode ser vista como uma obrigação para a sobrevivência? Pode-se aceitar o fato de von Braun nunca ter mencionado um sentimento de culpa com as vítimas de suas bombas? O miolo da questão é certamente o seu envolvimento com a fabricação das V2, feito por prisioneiros de guerra obrigados a trabalhar em condições sub-humanas até (literalmente) morrer. A descrição do livro do trabalho forçado dos prisioneiros para preparar instalações subterrâneas é deprimente. Fica difícil acreditar que von Braun não conhecia estas condições. A maior parte destes fatos foi escondida durante a vida de von Braun. Somente após a sua morte é que pesquisadores reencontraram e divulgaram as informações que o caracterizariam como um criminoso de guerra. Leia o livro, busque mais informações e faça o seu próprio julgamento.