domingo, dezembro 20, 2009
Os Álbuns dos Beatles - Let It Be
Let It Be é um álbum bastante complexo. Por exemplo, todos os Beatles já se referiram a ele de forma depreciativa, apesar de conter grandes sucessos como "Let It Be", "Get Back" e "Across The Universe". Embora tenha sido o penúltimo álbum gravado, foi o último a ser lançado.
Para entender isto, é preciso saber que antes de "Let It Be" tivemos "Get Back".
Get Back
No final de 1968 os Beatles estavam mais desorientados que nunca. Os interesses individuais estavam divergindo. Não existia acordo quanto a um novo empresário para substituir Brian Epstein, o que aumentava as tensões sobre a parte financeira do grupo. Paul queria retomar as apresentações ao vivo, mas George era totalmente contrário a isto.
Foi então que Paul sugeriu um novo conceito, aceito sem muito entusiasmo pelo resto do grupo: tentar voltar às origens (daí o "Get Back"). No lugar das músicas super produzidas gravadas ao longo de meses, cheias de sobreposições e efeitos, músicas simples gravadas praticamente ao vivo.
Além disso, Paul propôs que os ensaios e gravações fossem filmados, gerando um documentário. Como "cereja no topo do bolo" existia a ideia de um concerto público no final, mas não existia acordo neste ponto.
O projeto apresentou problemas desde o começo. A gravação deveria usar um console de 72 canais projetado por Magic Alex; o equipamento se mostrou totalmente inadequado. O local escolhido para os ensaios não era acolhedor. A pressão e os horários impostos pela equipe de filmagem deixavam todos de mau humor. Como resultado, nenhuma gravação apropriada de música foi feita nestas primeiras sessões. No lugar disso, várias discussões ficaram registradas em filme. Após discussões particularmente quentes de George com Paul e John, George abandonou as gravações.
Uma semana depois as gravações foram retomadas, agora no Apple Studios e com a presença de um grande amigo deles: Billy Preston. Preston contribuiu, no mínimo, em dois aspectos. O primeiro foi permitir sofisticar um pouco os arranjos, contidos pela restrição da gravação ao vivo (o que viria em breve a ser abandonado). Mais importante, ele era uma figura alegre e (como já tinha acontecido na gravação de "While My Guitar Gently Weeps") a presença de mais uma pessoa fazia com que os Beatles se comportassem melhor. Estas sessões resultaram em uma quantidade imensa de gravações.
Faltava o ato final. Após muitas discussões surgiu a ideia de um concerto no telhado do prédio da Apple. E com isto surgiu um dos ícones da mitologia do rock-and-roll (que foi aproveitado para o final do jogo "Rock Band - The Beatles"). A coisa toda foi improvisada: a decisão foi no final de um dia e a gravação no começo do dia seguinte. As famosas imagens do concerto denunciam este improviso nos trajes dos Beatles: pressionados pelo frio, eles apelaram para os casacos de suas esposas. Durante pouco mais de quarenta minutos (até que a polícia interrompeu o show) os Beatles (acompanhados de Preston) deixaram de lado todos os problemas e se concentraram em tocar música.
No dia seguinte ao concerto no telhado, os Beatles e Billy Preston fizeram uma nova série de gravações ao vivo, desta vez no estúdio - a "Apple Studio Performance". Estas gravações foram dos números acústicos.
Finalizadas as gravações, sobrava a tarefa de gerar um álbum. O engenheiro Glyn Johns fez duas tentativas, que não foram aprovadas pelos Beatles. As fitas foram arquivadas e algum tempo depois os Beatles foram procurar George Martin para fazer um "álbum de verdade" (que viria a ser "Abbey Road".
Mas a história não parou por aí.
Phil Spector e Let It Be
Em 1970 John e George entregaram as fitas para o produtor Phil Spector para uma nova tentativa de gerar um álbum. E Spector fez "Let It Be". Nesta produção ele abandonou por completo o conceito inicial de um álbum "ao vivo" e usou em várias músicas a sua técnica "Wall Of Sound", acrescentando orquestrações e coros.
Embora John e George tenham elogiado o resultado, Paul detestou o tratamento dado a algumas músicas, particularmente a sua "The Long And Winding Road", a ponto de citá-lo como um dos motivos de sua saída dos Beatles. Em 2003 foi lançado "Let It Be... Naked" uma versão na qual foi retirada a maior parte do trabalho de Spector.
Vamos às músicas de Let It Be (o Álbum)
Two Of Us
Composição de Paul. Paul e John tocam violão e George toca a linha de baixo em uma guitarra. A base para a mixagem foi um dos takes da "Apple Studio Performance" e não foram incluídos overdubs, embora o som tenha sido bem alterado (diz-se que para melhor).
Dig a Pony
Composição de John. O LP utiliza a gravação do concerto no telhado.
Across The Universe
Uma linda composição de John gravada muito antes das sessões de Let It Be (mais exatamente, em fevereiro de 68 entre "Magical Mystery Tour" e "The Beatles"). A gravação original foi feita em um domingo à tarde e num determinado momento John e Paul concluíram que faltava um "backing vocal" feminino. A solução: chamar duas das inúmeras fãs do lado de fora do estúdio (uma delas brasileira). Esta gravação só foi publicada em outubro de 69, em um álbum com renda destinada ao World Wildlife Fund. Esta versão foi bastante acelerada e teve uma grande quantidade de efeitos sonoros acrescentada. Spector partiu da gravação sem os efeitos, reduziu ligeiramente a velocidade e acrescentou uma complexa orquestração.
I Me Mine
George compôs esta música no início da gravações do filme. Uma das sequências gravadas para o filme mostra George a tocando no violão para Ringo. Avancemos um ano, para janeiro de 1970, quando o filme e o LP ainda estavam enrolados. As cenas estavam sendo consideradas para o filme, mas não estava disponível uma gravação para o LP. Desta forma Paul, George e Ringo foram para o estúdio (John estava de férias). Esta gravação e a do dia seguinte foram as últimas dos Beatles como um grupo. A gravação foi produzida por George Martin e sofreu as sobreposições corriqueiras, resultando em 1'34". Após o tratamento de Spector (incluindo o acréscimo de orquestração), a música ficou com 2'25".
Dig It
Uma composição de John, mas que saiu no álbum com os créditos Lennon/McCartney/Starkey/Harrison. Foram gravadas duas versões completamente diferentes. Da primeira foi aproveitada apenas a fala final de John, usada como introdução para Let It Be. A versão no disco consiste em 49 segundos da segunda versão - que tinha mais de 12 minutos.
Let It Be
Composição de Paul, foi a primeira a fugir do conceito "ao vivo", ao ter o solo de guitarra regravado. A versão original foi usada no compacto. Phil Spector partiu da versão com o novo solo, colou uma repetição no final e carregou no eco dos pratos.
Maggie Mae
Uma música tradicional de Liverpool, gravada entre takes de "Two Of Us" e mixada sem excessos por Spector.
I've Got A Feeling
Junção de duas músicas originalmente consideradas para o álbum branco: "I've Got A Feeling" de Paul e "Everybody Had a Hard Year" de John. A versão no LP foi gravada no concerto do telhado. Destaque para as guitarras distorcidas e os vocais de Paul e John.
The Long And Winding Road
Uma linda balada de Paul, que a imaginou centrada no piano. Phil Spector tinha uma visão diferente, e acrescentou uma pesada orquestração e coro. A briga entrou para a história.
One After 909
Composição de John Lenon, que tinha sido gravada pelos Beatles em 1963 e engavetada. A versão no LP foi gravada no concerto do telhado.
For You Blue
Música de George, mas quem toca guitarra é John. Gravada em estúdio.
Get Back
Composta principalmente por Paul, começou como um improviso no início das gravações e foi objeto de inúmeros takes. Embora tenha sido executada no telhado, a versão no LP partiu de um dos takes de estúdio (porém Spector colocou no final falas de Paul e John extraídas da apresentação no telhado). A versão lançada em compacto (antes do LP) partiu do mesmo take mas as diferenças de edição dão a impressão de serem gravações totalmente distintas.
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