É interessante como algumas ideias se repetem periodicamente. São ideias interessantes mas que por um motivo ou outro nunca se realizam plenamente. Repete-se assim um ciclo de anúncio, interesse, desinteresse e esquecimento. Em alguns casos a ideia consegue sucesso após algumas iterações, quando a tecnologia evoluiu ou mudaram os gostos do público alvo.
Computadores pequenos, leves, baratos e voltados para determinados tipos de aplicação é uma destas ideias.
Em 1992, a Olivetti lançou o Quaderno, um notebook DOS com tamanho A5 (metade de uma folha de papel A4), tela de 7.5" e peso da ordem de 1Kg. É provável que alguém ache um exemplo ainda mais antigo. Ainda na primeira metade dos anos 90, tivemos uma onda de sub-notebooks, como O Handbook da Gateway e o Omnibook da HP.
Na segunda metade, a onda de computadores pequenos foi impulsionada pelo padrão H/PC da Microsoft, baseado no Windows CE.
Em 2005 o conceito voltou à tona com o anúncio do "laptop de 100 dolares". Dai surgiram o Eee PC e uma multidão de computadores designados de netbooks.
O problema com estes computadores e que para serem pequenos e baratos é preciso fazer certos compromissos. E muitos usuários não compreendem isto. O resultado é a frustração de descobrir que o seu novo netbook não é apropriado para executar alguma aplicação que você considera vital. Quando os netbooks se aproximam em funcionalidade com o notebook o preço sobe e surge o argumento "por um pouco mais eu compro um notebook 'de verdade'".
Um efeito parecido ocorre com o software. Embora faça sentido oferecer um sistema operacional mais otimizado (como uma versão custom do Linux), os usuários preferem o Windows.
Tudo isto vem à tona no momento em que a Google anuncia o "Chrome OS", voltado para netbooks. O Chrome OS recicla também um outro conceito que não conseguiu sucesso total até agora: o Network Computer. Na geração anterior, quando se proclamava também que "o browser é sistema operacional", a idéia era os NCs se conectarem a servidores internos, restaurando em parte o poder centralizado da era dos mainframes. Na nova encarnação, os computadores com o Chrome OS irão se conectar à "grande nuvem da internet".
Me parece que a Google vai ter um bom trabalho pela frente para vender esta idéia. Além do problema de aceitar os compromissos, que limita hoje a aceitação dos netbooks, os compromissos aqui serão mais fortes. No modelo proposto pela Google, dados e aplicações ficam na internet e não armazenados localmente. As aplicações são aplicações Web e não aplicações nativas. Conectividade próxima da constante será essencial.
A Google conseguiu uma lista de parceiros de hardware de chamar a atenção: Acer, Asus, Freescale, Hewlett-Packard, Lenovo, Qualcomm, Texas Instruments, and Toshiba. Entretanto, a história mostra que aparecer nestas listas não é sinônimo de comprometimento com a plataforma.. Todos estes fabricantes apostam simultaneamente em várias plataformas. Em alguns casos o custo para entrar na lista é baixo frente à divulgação que se vai conseguir. É mais ou menos como na virada do século, onde toda empresa procurava um jeito de colocar a palavra Linux nos seus press-releases, só para aparecer na midia.
É possível que o anúncio leve a Microsoft a rever os seus planos para o Windows Seven em netbooks, levantando algumas das restrições que supostamente ela vai impor. Se isto acontecer, vai ficar mais marcante a comparação de funcionalidades entre as plataformas (lembrando que um netbook com o Seven provavelmente vai ser maior, mais pesado, mais caro - e capaz de rodar o browser Chrome).
Vamos ver se o ciclo dos computadores pequenos será quebrado ou se daqui a dois anos o Chrome OS estará restrito a um pequeno nicho.
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