domingo, janeiro 15, 2012

Livro do Mês: O Andar do Bêbado

O Andar do Bêbado, de Leonard Mlodinow, é um livro sobre o aleatório. Começa falando sobre probabilidades, passa para a estatística e termina em uma discussão de quanto o acaso o afeta.

Curiosamente, é um livro que comprei alguns anos atrás para a minha mãe (a pedido dela). Apesar de um certo interesse pelo assunto, me esqueci totalmente dele, até ganhar de presente de Natal.


O estilo do livro é bem agradável, intercalando teoria e exemplos com a biografia dos pensadores que desvendaram a matemática do aleatório. Algum exemplos são bem conhecidos (como o paradoxo dos aniversários e o problema de Monty Hall), outros tirados da própria vida pessoal de Leonard. Embora vários conceitos matemáticos sejam descritos, ele evita as definições rigorosas e as fórmulas. O resultado é bastante cativante, um livro que fica difícil de largar.


Um fato conhecido é que a mente humana tem dificuldade em avaliar corretamente questões que envolvam aleatoriedade. Daí os vários exemplos onde se faz a pergunta errada, ou se aceita a resposta a outra pergunta (ao invés da que fizemos) ou simplesmente não aceitamos a resposta correta.

Só para citar um exemplo mais forte, em 1989 Leonard teve uma proposta de seguro de vida rejeitada por ter obtido um resultado positivo em um teste de HIV. Ao questionar qual a probabilidade do teste estar errado, escutou tinha 1 chance em 1000 de viver mais de uma década. Só mais tarde é que descobriu que o médico tinha dado a resposta a outra pergunta: qual a probabilidade do teste ser um falso positivo (ou seja, em cada 1000 testes em pessoas sãs ocorre 1 resultado positivo). O que ele ele precisava saber era, dado que o resultado foi positivo, qual a probabilidade de ser um falso positivo. Considerando 10.000 pessoas com o mesmo perfil que ele (de baixo risco), as estatísticas indicavam que apenas uma estaria infectada com HIV. Por outro lado, a resposta do médico indicava que neste mesmo conjunto ocorreriam 10 falsos positivos. Portanto, a cada 10.000 pessoas teríamos 11 resultados positivos, dos quais apenas 1 seria verdadeiro. E, realmente, o caso dele era um falso positivo.

O capítulo final é, talvez, o mais polêmico. Nele Leonard defende a tese de que a aleatoriedade é um fator tão (ou talvez até mais) importante para o que consideramos "sucesso" de uma empresa ou individuo, do que as qualidades que normalmente admiramos. As avaliações de sucesso se baseiam tipicamente em poucas medições em situações onde existem um número muito grande de variáveis envolvidas. É bastante comum vermos pessoas e empresas ditas "vencedoras" não conseguirem manter este desempenho por longos períodos. Da mesma forma, vemos muitas vezes o sucesso surgir para quem não tem um bom histórico de acertos. Leonard desfila exemplos nos esportes e negócios (tanto do ponto de vista comercial como financeiro). Não se trata simplesmente de dizer que competência e talento não sejam importante, apenas que os nossos julgamentos se dão após um número muito pequeno de resultados, o que impede uma medição real destes valores. Tentando adaptar os exemplos esportivos para a realidade brasileira, é como julgar um técnico ou atacante de futebol apenas pelo seu resultado em um campeonato (o que torcedores e cartolas não param de fazer).

Veredito: Recomendado.

Um comentário:

Gustavo Cardial disse...

Comprei e estou lendo, motivado por seu post. Capítulo 8, e adorando.