
Um Computador Sem Unidade de Disco
Como vimos na parte inicial, os primeiros disquetes eram de oito polegadas. Em 1976 Alan Shugart (que tinha gerenciado o projeto do disquete de oito polegadas na IBM e posteriormente fundado a Shugart Associates que dominou o mercado de drives de disquete nos final dos ano 70) desenvolveu um modelo menor e mais barato: o disquete de 5 1/4 polegadas.
Apesar da redução de custo, a unidade de 5 1/4 ainda custava acima de US$ 1000, sendo usada somente nos micros "profissionais", comprados por empresas. O usuário doméstico ficava preso às fitas cassete.

Provavelmente nenhum dos meus leitores teve experiência de fita K7 como meio de armazenamento (alguns nem devem ter usado fita K7 com música!). A experiência era péssima: baixa confiabilidade, lentidão, acesso somente sequencial. O presidente da Apple (Mike Markkula) sentia isto na pele e em dezembro de 1977 colocou no topo da lista dos projetos para o Apple II uma interface para conexão de disquetes.
Wozniak Faz Mágica
Wozniak não conhecia muito sobre disquetes, mas se debruçou sobre os manuais da Shugart e projetou um circuito extremamente simples capaz de controlar um drive. Na busca pela simplificação, ele acabou ignorando dois sinais provenientes da unidade:
- A indicação de cabeça na trilha zero: ao invés de usar este sinal o firmware se valia da existência de uma limitação mecânica do movimento na cabeça. No início da operação, ou após algum erro, a cabeça era movida um número grande de passos na direção da trilha zero. A batida da cabeça no fim de curso gera um barulho característico quando o drive é ligado.
- A indicação da posição angular (referência para o primeiro setor). Um pequeno furo próximo à região central do disquete é normalmente usada para localizar o primeiro setor; no Disk II o firmware localiza o primeiro setor procurando uma sequência de bytes.
Para simplificar a parte analógica do circuito, inicialmente era usada densidade simples. Ajustes no circuito deram um ganho de 10% na capacidade (de 9 para 10 setores por trilha). Em seguida Woz abandonou a codificação da densidade simples e passou a usar uma técnica chamada group code recording, chegando a 13 setores para um total de 115K (35*13*256). Anos mais tarde, em 1980, Woz aperfeiçoaria a codificação chegando aos 16 setores e 140K.
A parte digital do circuito utiliza uma PROM para implementar uma máquina de estados. Com isto, o circuito ficou com apenas 8 integrados, contra os mais de 40 tradicionalmente usados.
Woz foi responsável também pelo layout da placa de circuito impresso e conseguiu obter uma placa em que não há necessidade de interconexão entre as trilhas das duas faces, aumentando a confiabilidade e reduzindo o custo.

Os Discos Dupla Face
O fato da Apple não usar o sensor da posição angular teve um efeito colateral. Normalmente este sensor é também usado para garantir que o disco foi inserido com a face correta para cima. Sem o sensor era possível colocar a media de ponta cabeça e aproveitar as duas faces. Isto podia ser feito tanto comprando disquetes dupla face como, para os mais venturosos e/ou avarentos, disquetes de face simples.
Existia um único problema no uso da segunda face: o corte que permite a gravação. Nos disquetes de 8 e 5 1/4, um corte na lateral era coberto para proteger o disco contra escrita. A solução era recortar a capa cuidadosamente com uma tesoura. Ou usar uma ferramenta especialmente criada para isto:

Um Produto Lucrativo
O Disk II foi lançado com um preço de US$595 (e o preço especial de US$495 para quem colocasse o pedido antes do lançamento). Este preço, muito inferior ao praticado pelos demais fabricantes, incluia a controladora, uma unidade e o sistema operacional (chamado DOS 3.1).
O custo das peças era da ordem de US$140. Dois anos depois, a Apple procurou uma empresa japonesa para produzir as unidades de disco, baixando o custo para US$80.
Mais importante que o lucro do Disk II é o fato de que ele foi um grande alavancador de vendas. Com ele o Apple II deixava de ser um brinquedo e passava a ser um computador de verdade.
Links
Na wikipedia: aqui e aqui.
Na excelente Apple II History: aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário