domingo, julho 04, 2021

Resenha: Thelonious Monk: The Life and Times of an American Original

Uma leitura um pouco diferente: a biografia do compositor e pianista de jazz Thelonius Sphere Monk. Esta leitura me faz relembrar a minha descoberta de Monk e aprender um pouco sobre as dificuldades que ele e outros artistas negros passaram.


Acho que foi em 1988 quando eu resolvi aderir a uma nova moda e comprei o meu primeiro tocador de CD. Me perdoem os fãs do vinil, mas eu estava de saco cheio de limpar a agulha e escutar cliques e chiados. Só que aí era preciso comprar CDs para ter o que ouvir... A disponibilidade de CDs era pequena e os preços não muito convidativos; a meta de comprar dois CDs por mês se mostrou complexa. As escolhas dos títulos a lançar no "novo formato" eram estranhas e acabou sendo um incentivo para experimentar coisas diferentes. Foi assim que comprei "Monk's Dream" e descobri que gostava de jazz. Infelizmente ao longo dos anos encontrei poucos discos dele e, nos tempos pré-internet, era difícil obter informações ou ver performances ao vivo. Depois de alguns anos eu vi um documentário na TV que apresentava Monk como um gênio esquisito, pouco comunicativo e cheio de manias.

Décadas mais tarde eu ganhei um vale compra da Fnac e comprei esse "Thelonious Monk: The Life and Times of an American Original" de Robin D.G. Kelley. Um livro imenso, que ficou tomando poeira na estante até eu adotar a minha recente política de priorizar os livros físicos (para abrir espaço).

O livro começa a história antes mesmo de Thelonius nascer, no tempo da guerra civil americana. Como o livra deixa claro, a libertação não melhorou tanto a vida dos (agora ex) escravos, nem lhes forneceu uma cidadania plena. Na tentativa de melhorar de vida, a família de Monk, como muitas outras, trocou a fazenda no Sul pela cidade grande no Norte (no caso Nova York).

A maior parte do livro acompanha a carreira de Monk e um pouco da sua vida pessoal. Ele foi uma figura central do chamado "bebop", mas enfrentou críticas enquanto este estilo ainda era novo e foi em grande parte ignorado depois dele estabelecido. Somente depois de alguns anos passou a gozar de alguma fama, mas logo passou a ser criticado por não criar "algo novo". Os contratos e sessões de gravação muitas vezes deixavam de desejar e por poucas vezes desfrutou de alguma tranquilidade financeira. Ele sofreu diversas vezes com o preconceito e um sistema que relegava os negros a uma segunda categoria de pessoas.

Existe um esforço da narrativa para descontruir mitos como o desconhecimento de música por parte de Monk e a imagem de ser esquisito e não confiável. Monk certamente tinha problemas, mas nunca foram corretamente diagnosticados e as medicações e tratamentos que recebeu eram, na melhor das hipóteses, inócuos (muito provavelmente agravaram sua condição). Estes problemas explicam um pouco o porque dele ter parado de compor muito cedo na carreira.

O capítulo final é bastante triste. Debilitado mentalmente, se afasta da música e da esposa e passa os últimos seis anos em uma vida quase vegetativa até sofrer um derrame e falecer.

Veredito: Recomendado.

Nenhum comentário: