quinta-feira, junho 04, 2020

Memórias: Aprendendo Inglês

Eu aprendi inglês na adolescência. O motivo e o método foi um pouco diferentes do usual.


Esta estante deve ter uns 50 anos!
Uma boa parte dos livros de SF foram movidos para outras estantes

Meu gosto pela leitura vem de cedo, impulsionado em grande parte por ter pais que leem vorazmente. Um dos gostos do meu pai é ficção científica e ele já tinha uma coleção de livros que hoje chamamos de clássicos. O problema é que estes livros são em inglês. Eu ficava olhando os livros na estante, vendo nomes como Isaac Asimov e Arthur C. Clark e imaginando o que teria dentro deles.

Algum tempo após mudar de casa, a minha mãe descobriu uma professora particular de inglês que morava numa das ruas próximas. O método dela era radical: pensar em inglês. Nada de pensar em português e traduzir antes de falar. As aulas eram totalmente em inglês.

Inicialmente eram duas aulas de uma hora por semana.Mais adiante surgiu a grande oportunidade. A professora tinha dado aulas na Graded School, uma escola internacional onde parte da clientela eram executivos de multinacional que queriam dar uma educação uniforme para os filhos apesar de mudanças frequentes de país. Por esse motivo, as aulas eram em inglês. A minha professora particular (Ellen? me foge o nome!) tinha saído por "divergências pedagógicas", mas em bons termos e era ser indicada para aulas intensivas para alunos que ainda não sabiam inglês (normalmente filhos de executivos que tinham sido relocados para o Brasil). Ela considerava importante para estas aulas intensivas ter um grupo que incluísse algumas pessoas mais adiantadas e me convidou a participar durante o período das férias. Como as outras crianças / jovens não falavam português, não tinha muita opção fora forçar o inglês. Foi uma grande emoção conseguir contar a primeira piada...

A minha maior evolução era na leitura. Dos livros mais simples fui indo para os livros mais longos e com maior vocabulário. Em caso de dúvida, dicionário "inglês-inglês". De repente estava lendo os livros do meu pai! Acho que o primeiro foi o "Foundation" do Isaac Asimov.

O livro ainda está lá, mas bem "surrado"
Quando parei com as aulas, continuei com a leitura. A professora de inglês da escola, vendo que eu estava me dispensando na aula, me propôs que eu ficasse quietinho no fundo da sala lendo um livro, com a condição de escrever um pequeno resumo a cada aula. Foi uma oportunidade de praticar um pouco a escrita.

Ao final deste aprendizado, eu considerava que sabia inglês somente para leitura. As oportunidades de escrita e conversação eram raras (não, não tinha tinha tecla SAP na TV nem internet). Quando fui para os EUA em 89 com o meu amigo/chefe (algo que vai ganhar um post) eu conseguia me comunicar com as pessoas mas não sentia muita segurança. Quando, em 93, fui trabalhar em uma empresa (Seal) que representava empresas americanas, disse que o meu inglês para conversação era fraco, Mesmo assim, com menos de três meses me mandaram sozinho para um treinamento na California... 

Aos poucos fui me sentindo mais confiante (e percebendo que muita gente que dizia ser fluente falava menos que eu). Além de melhorar a escrita e conversação nos contatos com os fornecedores, eu comecei a avançar num outro ponto fraco: a tradução. Um efeito colateral do "pense em inglês" é que eu lia textos em inglês e entendia, mas passar para português necessita um passo adicional.

Nesta época (onde já tinha tecla SAP mas a internet ainda estava nascendo) eu experimentei audio books. Não foram muitos, porque eram importados e caros. O formato era fitas cassete, o que possibilitava escutar no toca-fita do carro (jovens, procurem na internet o que é um toca-fita).

Depois que eu saí da Seal a minha conversação decaiu um pouco. Em compensação a internet dá a oportunidade de escutar inglês e tentar manter o ouvido treinado.

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