terça-feira, março 28, 2017

Vamos Falar de Arduino? Parte 1

No próximo sábado, 1o de abril de 2017, teremos o "Arduino/Genuino Day", quando ocorrem diversos eventos celebrando o Arduino. Me parece um bom momento para falar um pouco sobre esta tão popular plataforma. Estou prevendo três post: este primeiro falando um pouco da história do Arduino, o segundo falando das placas oficiais e o terceiro falando do software.


O meu envolvimento com o Arduino foi "sem querer-querendo". No final de 2010 dois fundadores do Garoa Hacker Clube decidiram criar a "Noite do Arduino", um evento semanal para trocar ideias sobre a plataforma. Na metade de 2011, os organizadores originais não tinham mais disponibilidade na data e horário combinadas (quintas às 19:30). Eu me ofereci para continuar a atividade ("provisoriamente"), apesar de saber quase nada a respeito. Não tinha a menor ideia da quantidade de plaquinhas e acessórios que eu ia acumular a partir de então.
Mais afinal, o que é o Arduino? Para mim é uma "plataforma", uma combinação de hardware (com destaque para as placas Arduino oficiais), software (IDE, bibliotecas, etc) e, principalmente, uma "comunidade" (um bando imenso de gente que usa, divulga, ensina, aperfeiçoa e complementa o hardware e software). Existem também duas empresas com o nome Arduino, que brigaram e fizeram as pazes.

Existem várias versões sobre a origem do Arduino. Aqui você pode ler uma versão oficial, aqui uma variante escrita por Hernando Barragán, que participou dos estudos iniciais mas não do grupo que criou a empresa e as placas e IDE oficiais. Ficando no que existe de consenso, em 2003 um grupo de pessoas no Instituto Ivrea de Projeto Interativo, na Itália, resolveu desenvolver uma plataforma simples, barata e aberta para permitir que pessoas diversas usassem microcontroladores sem precisar conhecer os detalhes de hardware e software. Barragán criou uma IDE e biblioteca chamadas Wiring e experimentou algumas placas e processadores até optar pelo ATmega128. O grupo que viria a adotar o nome Arduino fez um fork do Wiring e desenvolveu uma placa ainda mais simples usando o ATmega8. Surgiram então duas empresas, a Arduino LLC (que assumiu a manutenção do software) e a Smart Projects (que produzia as placas oficiais). Em 2008 a Smart Projects registrou a marca Arduino na Itália e em 2014 mudou o seu nome para Arduino SRL e a treta comeu solta. No final do ano passado as duas empresas anunciaram a fusão e o fim das hostilidades, e muito pouco se falou sobre isto desde então.

A briga entre as duas empresas Arduino respingou no Arduino Day, que é um evento da Arduino LLC e renomeou o evento para Genuino Day nos locais onde não possui a marca registrada. Para ser reconhecido como evento oficial do Arduino Day é necessário seguir esta nomenclatura.

Como dito lá atrás, uma das premissas do Arduino era ser um projeto aberto, inclusive no hardware. Originalmente a FAQ oficial até encorajava quem quisesse fabricar e vender placas compatíveis, exigindo apenas que não usassem a marca registrada Arduino e recomendando não usar o sufixo "duino" (por "soar horrível"). A FAQ atual é mais rigorosa, mas o projeto continua aberto. O sufixo "ino" correu e corre solto, placas compatíveis (com denominações diversas) estão por toda a parte e a marca Arduino é tão pirateada quando grifes de roupas e tênis. A situação incomodou muito os criadores do Arduino, particularmente os envolvidos diretamente com a fabricação e comercialização das placas oficiais. Alguns apoiadores mais inflamados chegaram a falar em "regras não escritas do hardware livre" (que se sobreporiam até às regras escritas).

Uma discussão interminável aqui no Brasil é qual e onde comprar um Arduino. Existem bons argumentos para os produtos originais, projetos derivados e clones (que não usem a marca Arduino). Não faltam argumentos (bons ou ruins) para as lojas com ou sem nota, "revendedores não oficiais" de produtos chineses no Mercado livre e os sites chineses. A melhor discussão que eu vi foi na lista do Garoa: a pessoa que perguntou onde comprar postou uma mensagem duas horas depois da pergunta, informando que morava perto de uma das lojas citada nas primeiras resposta, tinha ido lá, comprado e já estava com o LED piscando. Ou seja, todas as discussões filosóficas perderam peso frente à vontade de colocar a mão na placa.

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