domingo, agosto 31, 2014

Resenha: Jogo Sujo

Jogo Sujo, com o subtítulo "O Mundo Secreto da FIFA: Compra de Votos e Escândalo de Ingressos", é um livro denúncia escrito pelo repórter investigativo inglês Andrew Jennings em 2006.



Segundo Jennings, a FIFA mudou a partir da eleição de João Havelange, em 1974. Ele substituiu Sir Stanley Rous, que presidia a FIFA há 13 anos e se opunha a uma comercialização maior da marca FIFA e da Copa do Mundo. Havelange teria sido eleito graças à promessa de aumentar o número de vagas na Copa e o apoio de Horst Dassler. Rous pretendia manter a Copa com 16 países (9 da Europa), enquanto Havelange prometia aumentar para 24 países, com as novas vagas sendo disputadas pelos países não Europeus.Horst Dassler era o herdeiro da Adidas e expandia a marca através do patrocínio de esportes.

Com Havelange eleito, a Copa passou a ter 24 países e os direitos da marca FIFA e da transmissão dos jogos promovidos por ela passou para a empresa ISL. Jogo Sujo abre justamente com um episódio relacionado a isto:em 1998 um pagamento da ISL no valor 1 milhão de francos suíços e destinado a um alto dirigente da FIFA acidentalmente é depositado na conta da FIFA. O então secretário geral, Joseph Blatter, ordena que o valor seja transferido para a conta de dirigente sem maiores questionamentos. Este episódio iria mais tarde deflagrar uma investigação da Justiça Suíça, custo resultado só viria a público em 2012, confirmando as acusações de suborno descritas no livro e nomeando João Havelange e Ricardo Teixeira como os receptores das propinas.

O livro, entretanto, se concentra na atuação de Blatter como presidente na FIFA a partir de 1998, substituindo Havelange. Num trabalho bastante minucioso, Jennings relata uma série de episódios suspeitos envolvendo a FIFA, Blatter e alguns de seus parceiros como Chuck Blazer e Jack Warner. Farta distribuição de dinheiro e ingressos às confederações e votações esquisitas, como a escolha da sede da Copa de 2006.

Nesta ocasião os principais candidatos eram a Alemanha e a África do Sul, com os votos disputados um a um. Por coincidência, o Bayern de Munique jogou amistosos em alguns países indecisos, pagando 300 mil dólares para as federações locais a título de direito de imagem. A África do Sul Mandela tinha como "garoto propaganda". A Alemanha acabou ganhando a votação por 12 a 11, graças à oportuna e mal explicada ausência do representante da Nova Zelândia, o que livrou Blatter da incomoda posição de dar o voto de minerva. A confusão foi tamanha, que a FIFA decidiu por um rodízio de continentes para as sedes, apaziguando as confederações africanas. Após a copa da Africa do Sul, entretanto, este rodízio foi abandonado.

Esta é apenas algumas das confusões relatadas, que incluem auditorias nada transparentes e um tratamento muito especial para as dívidas deixadas pela falência da ISL em 2001.

Somente no final do livro aparece um personagem que teve certo destaque durante os preparativos da Copa no Brasil: Jérôme Valcke. E ele não surge bem na foto, sendo afastado da direção de marketing da FIFA no final de 2006 após ser considerado culpado por uma corte americana pelo seu comportamento durante uma negociação de patrocínio (quando um contrato foi feito com a Visa em desrespeito ao estipulado a um contrato de longa data com a MasterCard). Para surpresa geral, Valcke assumiu a secretaria geral da FIFA pouco tempo depois, em Junho de 2007.

Veredito

Imperdível.

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