Na semana passada a Apple anunciou com fanfarras que a atualização para a nova versão do MacOS não terá custo. Este anúncio repercutiu na imprensa e na web, registro aqui as minhas divagações a respeito.
Apesar da Apple considerar isto o "início de uma nova era", atualizações e softwares grátis estão longe de ser uma novidade. Só para ficar em exemplo quase simultâneo, a Microsoft está disponibilizando o Windows 8.1 gratuitamente para os usuários do Windows 8. Os adeptos do software livre tiveram dificuldades em entender o que era cobrar por software (não custa lembrá-los que alguns softwares livres utilizam Dual License, cobrando para determinados usos).
Na comparação com a Microsoft, alguns levantaram a questão do OS X Mavericks ser equivalente a uma versão ou service pack do Windows. É claro que não existe diferenciação formal nesta classificação da Microsoft, os mais antigos lembrarão da cobrança pelo Windows 98 Second Edition. O que parece claro é uma estratégia diferente de evolução do sistema, com a Apple optando por liberações mais frequentes e com menos diferenças. Se, por um lado, isto reduz o impacto das atualizações e incentiva os usuários a adotarem a nova versão, por outro lado isto pode levar a abrir mão de mudanças mais significativas. Apesar de ainda não ter ter acertado a mão, é preciso reconhecer a coragem da Microsoft em fazer mudanças radicais em seu sistema operacional com lançamentos como o Vista e o Windows 8.
Um outro ponto é que o OS X só pode ser executado (segundo a sua licença de uso) em computadores Apple e, até onde eu sei, a Apple não vende computadores sem sistema operacional. Esta prática (bundling) era comum no início da fabricação de computadores, mas saiu de moda quando eu ainda era criança. Em 1969, pressionada por um processo anti-trust, a IBM passou a cobrar separado por hardware, software e serviços. Este evento é considerado por muitos como um ponto de virada para o mercado de desenvolvimento de softwares.A Microsoft foi repetidas vezes fustigada pela inclusão de aplicativos no Windows, estando ainda sobre sanções na Europa relacionadas à inclusão do Internet Explorer.
A minha experiência pessoal de desenvolvimento de software em empresas de fabricação e/ou comercialização de equipamentos é, digamos, agridoce. Existem sempre pessoas preocupadas somente com o número de "peças" vendidas e que enxergam a área de desenvolvimento como um custo ou mesmo um "mal necessário". Mesmo estando em um fabricante bastante esclarecido (a Scopus) a passagem para uma empresa de desenvolvimento de software (Humana) foi bastante marcante.
É claro que a Apple é uma empresa com longa tradição de se diferenciar pelo software. Isto não impediu, entretanto, que em 1987 ela torna-se independente a sua área de desenvolvimento de aplicativos (Claris). Embora pareça no momento um absurdo total a Apple retirar do seu cerne o desenvolvimento de aplicativos como iLife, iWork, etc, seria ingenuidade fazer qualquer aposta (numa direção ou na outra) para daqui a uma década.
Resumindo, a atualização gratuita para o OS X Mavericks é uma boa notícia de curto prazo para os usuários Mac, mas não é de forma alguma uma revolução na indústria. Muito pelo contrário, traz recordações não muito agradáveis e algumas preocupações.
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