segunda-feira, março 13, 2006

Protocolos de Comunicação

Um dos trabalhos que andei fazendo envolveu implementar o protocolo XModem em coletores de dados. Os protocolos de comunicação são algo que me facinam há muito tempo (afinal, os meus dois primeiros empregos estavam relacionados a comunicação de dados).

Um protocolo de comunicação é um conjunto de convenções usado para mover informações entre dois equipamentos. Os principais objetivos de um protocolo é cuidar do endereçamento (no caso de ligações multiponto) e garantir a integridade das informações. Embora isto não seja muito visível atualmente, a comunicação à distância está sujeita a grande quantidade de erros. A maioria dos equipamentos atuais (inclusive modems) possuem protocolos embutidos que detectam e recuperam erros de forma quase transparente. No começo da comunicação via modem, os erros de comunicação eram mais evidentes. Antes da internet, a vida on-line era feita através das BBSs (computer Bulletin Board Systems) que enviavam os textos sem protocolo, era comum caracteres sumirem, mudarem ou mesmo surgirem do nada. Um bom protocolo de comunicação precisa ter uma boa resistência a estas ocorrências.

A maioria dos protocolos de comunicação se baseiam nos mesmos conceitos. O primeiro destes conceitos é um pacote. O início de um pacote é normalmente marcado por um caracter especial. O final de um pacote pode ser determinado de três formas básicas: tamanho fixo em função do tipo de pacote, um campo de tamanho dentro do pacote ou um caracter especial no fim. Para detectar erros, é comum acrescentar-se ao final do pacote um ou mais bytes que são calculados a partir dos demais. O receptor recalcula estes bytes e confere com os recebidos, se não forem iguais é porque um erro ocorreu. Exemplos comuns de detecção de erro são os checksums (soma desprezando vai-um) e os crcs (cyclic redundancy codes). Alguns sistemas utilizam códigos de correção de erro (ECC) que além de detectar erros pode corrigir uma parte deles. O mais comum entretanto, é recuperar uma situação de erro solicitando a retransmissão do pacote. Na forma mais simples, a cada pacote recebido o receptor envia um caracter que indica se o pacote foi recebido corretamente (ACK - Acknoledge) ou com erro (NAK - NonAcknoledge). Para tratar o caso em que um ACK, NAK ou pacote é perdido no meio do caminho normalmente os pacotes são numerados e as recepções são temporizadas. Por exemplo, se o transmissor envia o pacote 31 e o receptor o recebe corretamente mas o ACk é perdido, o transmissor irá dar um timeout e re-enviar o pacote 31. O receptor ignora o pacote duplicado e re-envia o ACK para que o transmissor envie o pacote seguinte.

Como descrito acima, é comum os protocolos darem significado especial para alguns códigos. A tabela ASCII reflete isto, reservando os primeiros 32 códigos para os caracteres de controles, alguns como nome como Start of Transmission (STX), Start of Header (SOH), End of Text (ETX), Acknoledge (ACK) e Non-Acknoledge (NAK). Existem dois tratamentos comuns para os códigos de controle presentes no interior dos pacotes (nos dados). O mais comum é permitir a presença de caracteres de controle dentro de pacotes; isto é mais simples e eficiente porém pode causar problemas quando ocorre algum erro e um caracter de dado é tratado erroneamente como caracter de controle. Outra opção é utilizar um caracter de prefixo (o código ASCII tem o DLE com esta finalidade). Por exemplo, um protocolo pode convencionar que para enviar um SOH nos dados deve ser enviado DLE A e que para enviar DLE deve ser enviado DLE P ou DLE DLE.

Uma outra coisa impressionante é como determinados protocolos criados de forma despretenciosa acabam virando padrões e se mantendo vivos por décadas. O protocolo XModem foi criado nos anos 70, por uma pessoa que queria passar arquivos de um micro para outro e permanece em uso até hoje, apesar de ter uma série de limitações.

A implementação de protocolos envolve conceitos e técnicas interessantes de programação. Em ambientes sem multiprogramação muitas vezes o programa precisa analisar os caracteres recebidos um a um; após examinar cada caracter precisa retornar a um loop principal onde outras funções são tratados. Exemplificando em um pseudo C:

// loop principal
while ( )
{
  TrataTeclado ();
  AtualizaTela ();
  if (RecebeuCaracter)
    TrataCaracter ();
  ...
}

Neste caso é inevitável implementar o protocolo como uma máquina de estados. Por exemplo, o pacote básico do XModem começa com um caracter SOH e tem 132 caracteres:

enum { ESPERANDO_SOH, RECEBENDO_PACOTE } estado = ESPERANDO_SOH;
byte pacote [132];
int i;

TrataCaracter (byte c)
{
  switch (estado)
  {
    case ESPERANDO_SOH:
      if (c == SOH)
      {
        estado = RECEBENDO_PACOTE;
        i = 0;
        pacote[i++] = c;
      }
      break;

    case RECEBENDO_PACOTE:
      pacote[i++] = c;
      if (i == 132)
      {
        TrataPacote();
        estado = ESPERANDO_SOH;
      }
      break;
  }
}

Em um ambiente multitarefa, é possível fazer algo mais legível como:

byte pacote [132];
int i;

RecebePacote ()
{
  While (RxCar() != SOH)
    ;
  pacote[0] = SOH;
  for (i = 1; i < 132; i++)
    pacote[i] = RxCar ();
  TrataPacote ();
}

(Obviamente estes exemplos são artificialmente simples, existem variações do XModem , não estou tratando timeouts, etc.)

No caso de você estar desenvolvendo para um sistema sem sistema operacional (um com sistema capenga como o DOS), você provavelmente vai ter uma fila para sincronizar a recepção em tempo de interrupção com o consumo dos bytes. Se você quiser implementar multitarefa por contra própria, vai ter que implementar um semáfaro para a fila (neste caso o RxCar() acima faz uma operação P na fila e fica bloqueado se a fila estiver vazia, até que a interrupção coloque um caracter na fila e faça um operação V).

Se tudo isto parece longe do seu dia a dia, lembre-se que você está lendo isto em um site através (no mínimo) dos protocolos TCP/IP.

Um comentário:

catia_carina2 disse...

oi amigo Daniel Quadros sou CATIA portuguesa estudo 1º ano de C de computacao eu tenho bluetooth no meu PC portatil (com WINVISTA) como e que eu faço para conectar com o robot mindstorms. Outra coisa que ainda me faz confusao que diferença há entre a linguagem C e Robotc será que tenho de escolher entre um e outro.Como saber o firmware de uma linguagem de programaçao
Onde posso encontrar o tutorial completo da linguagem robotC já pesquisei na NET e não encontro. Quais são os sensores que é preciso colocar nos robot são apenas dois sensor de toque e de luz?
O que é que faz cada um desses sensores ?
PS: Se a resposta for muito extenso envie a resposta para o meu e-mail
catia_carina2@hotmail.com
obrigada pela ajuda jinhos