quinta-feira, maio 06, 2021

Memórias dos Anos 90: Coletores de Dados I

Como já mencionei, a maior parte do meu trabalho na Seal foi relacionado a coletores de dados (principalmente, mas não exclusivamente, fazendo programas para eles). É hora de começar a falar sobre eles.

Coletânea de fotos dos coletores da Serie 3000, fora de escala
Em sentido horário, partindo do alto à esquerda: PDT3300, LRT3800, PDT3500 e
PDT3100. No centro o VRC3910.


O que é um Coletor (Portátil) de Dados?

Basicamente é um computador de mão usado para capturar dados. Vejamos isso melhor... 

Em 1993 (quase vinte anos atrás) a tecnologia tinha chegado ao ponto de colocar computadores nas mãos das pessoas, mas ainda com certas restrições técnicas. Para o coletor de dados ser útil ele deve capturar os dados o mais próximo possível de onde eles são criados, o que implica em robustez. Em muitas aplicações os dados precisavam permanecer nos coletores por um longo tempo antes de poderem ser descarregados (comunicação celular era bem restrita e WiFi ainda não estava nem nos sonhos). Portanto era preciso confiabilidade. A captura dos dados podia ser feita por digitação ou lendo código de barras.

A linha 3000 (DOS) da Symbol

A Symbol Technologies, que já mencionei aqui, originalmente trabalhava apenas com leitores de código de barras. Algum tempo antes (mas não muito) tinha adquirido uma empresa que desenvolvia coletores. Por questões de contrato a Seal demorou um pouco para começar a comercializar os coletores, acho que isso aconteceu pouco antes de eu entrar.

A Seal chegou a fazer algumas vendas de um modelo de coletor com processador de 8 bits, programável em uma variante de BASIC, no qual a aplicação tinha que ser gravada em EProm, mas (felizmente) tive pouco contato com ele.

Os coletores principais nesta época eram a chamada "linha 3000" com quatro modelos portáteis: PDT-3300, PRC-3310, LRT-3800 e LDT-3805. A diferença do PRC-3310 para o PDT-3300, e do LDT-3805 para o LRT-3800, era a inclusão de um rádio (que vai um assunto para vários posts). Os 33xx tinham o formato de "tijolo" e os 38xx de "pistola". Para ler código de barras com o 33xx era preciso ligar um leitor, o que não era muito prático. Dependendo do ponto de vista podíamos dizer que eram pequenos e leves suficientes para serem usados na mão "o dia inteiro" ou que eram grandes e pesados o suficiente para isso não ser mito confortável...

Todos estes modelos tinham um display LCD de 8 linhas por 20 colunas e várias opções de teclado (a falta de espaço impedia ter um teclado com teclas grandes para todos os caracteres, era preciso optar entre usar shifts ou teclas pequenas).

Existia um quinto modelo, o VRC-3910 que era para uso fixo em empilhadeiras (a tela dele era eletroluminescente, com 8 linhas de 40 colunas). Este só tinha a versão com rádio. Mais tarde seria lançado o PDT 31xx como uma opção mais barata com leitor integrado. Teve uma versão esquisita do 3310 sem teclado e display que era para ligar outros equipamentos ao sistema de rádio. Por último teve o PDT 35xx, um PDT31xx com um display de 16 linhas (era feio, mas a concorrência adorava convencer os clientes que 8 linhas era insuficiente). Muito mais lá para frente surgiram os 61xx e 68xx para substituir os 31xx e 38xx.

Num mundo ideal estes coletores seriam altamente compatíveis com o IBM PC (alguns concorrentes tinham isso), mas (como me ensinaram na universidade) engenharia é um trabalho de compromisso. A CPU deles era um NEC V.25, um processador compatível com o 8088 integrado com alguns periféricos importantes (em endereços não compatíveis).

Por algum motivo que nunca soube, inicialmente o BIOS usava pontos de entrada diferentes e depois foi feito um trabalho de compatibilização; o BIOS tinha também algumas funcionalidades adicionais. Imagino que o programador típico não se preocupava com isso, mas eu sempre fui um fuçador... Outra consequência é que um programa feito para o coletor na maioria dos casos não rodava num PC. Em alguma ocasião apareceu um programa que permitia fazer isso (emulava as chamadas não padrão do BIOS), mas não usei muito.

Os coletores rodavam DOS. Não o MS-DOS, mas o DR-DOS (a Digital Research teve relativo sucesso no nicho de sistemas embarcados). Não lembro de preocupações com compatibilidade (no que diz respeito a desenvolver software o buraco era bem mais embaixo, como veremos no próximo post).

A memória disponível era limitada em relação aos computadores da época (não custa lembrar que os PC usavam 386 ou 486 enquanto que os coletores tinha o equivalente a um 8088). Se a (minha) memória não falha, estamos falando de 256K de memória não volátil (NVM, para o DOS e a aplicação) e 640K (o mais comum) a 2.2M (somente em alguns modelos) de memória Ram. Tipicamente a maior parte da memória Ram era configurada como um Ramdrive para armazenar os dados (não era possível salvar dados na NVM e, mesmo que desse, não sobrava muito espaço).

Para encerrar a apresentação do hardware, resta dizer que as baterias eram de NiCad. Algum tempo depois do lançamento do PCT-3100 veio a opção de bateria de NiMH, com maior autonomia. Um detalhe curioso é que o formato da bateria era diferente, obrigando a usar um pequeno adaptador. Pior era que o carregador para baterias não aceitava as baterias de NiMH, inicialmente elas tinham que ser recarregadas dentro dos próprios coletores.


Nenhum comentário: