quinta-feira, outubro 29, 2020

Memórias dos Anos 80: O Nexus 1600, parte 1

 Chegamos a uma parte interessante das minhas memórias: minha participação no projeto de um dos primeiros computadores brasileiros compatíveis com o PC IBM, o Nexus 1600. Este assunto vai ocupar vários posts, neste primeiro vou tentar dar um pouco do contexto deste projeto dentro da Scopus.

Olha eu aí na Folha Informática!


Como mencionei em algum post anterior, a Scopus foi fundada por três colegas de faculdade. A Scopus cresceu rápido seguindo um modelo vertical (como a maioria das empresas da época): quase tudo era feito internamente.

Este crescimento rápido teve um forte efeito sobre a estrutura da empresa e a ocupação de cargos de chefia. Quando inicie o estágio, vários dos primeiros engenheiros (que eu considero a "geração heroica") já tinham avançados para cargos de chefia. A Engenharia era organizada nos departamentos de software e hardware (que inclusive ficavam em andares diferentes no prédio). 

Durante os meus primeiros meses na Scopus os gerentes destes departamentos foram promovidos para um novo grupo, o "Comitê de Tecnologia", com o objetivo de dar mais coesão interdisciplinar aos projetos. A ideia era que este comitê se envolveria na especificação dos projetos e no seu anteprojeto técnico. Algum tempo depois foi criado um grupo de Gerenciamento de Projeto, com o objetivo de formalizar a estrutura matricial dos projetos. Os projetos que mencionei nos posts anteriores (Lepus 200, TVA 2052 e o TVG 4001), seguiram à risca esta estrutura.

A diretoria da Engenharia era ocupada por Edson Fregni, que acumulava ainda o cargo de Presidente e tinha uma atuação forte na defesa da Reserva de Mercado. Reconhecendo o problema deste acumulo de funções, em 1982 um novo Diretor de Engenharia foi contratado. Por sua vez ele trouxe um engenheiro que viria a ser o líder do projeto do Nexus (o fato de ser alguém de fora criou inicialmente um certo atrito).

A minha primeira ligação com o projeto do Nexus foi quando um dos sócios apareceu na Engenharia com um PC-IBM (só a CPU e teclado). Ele foi ligado a um TVA-1000 alterado para funcionar como monitor e logo um monte de gente (eu inclusive) se aglomerou em torno. Minha lembrança deste evento foram as piscadas do vídeo quanto a tela rolava, o que gerou reclamações quanto ao monitor improvisado, até que eu examinei o Technical Reference e verifiquei que o BIOS apagava a tela enquanto fazia a rolagem (isto se deve ao fato da CGA original não suportar o acesso simultâneo da memória de vídeo pelo processador e o hardware de geração dos sinais de vídeo).

Um outro efeito do crescimento rápido foi a necessidade de financiamento, o que levou a dívidas. Em 1983 a Scopus sofria com a concorrência no mercado de terminais de vídeo e o seu micro de 8 bits não decolava. O projeto do Nexus passou a ser visto como a taboa de salvação. No início do projeto a Scopus realizou o seu primeiro corte de funcionários. Atendendo à sugestão de um funcionário, parte das lâmpadas de iluminação foram retiradas para economizar na cona de luz. Não sei quanto isto representou em termos de economia, mas certamente foi um baque na moral.

No próximo post vou falar um pouco no projeto do hardware.

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