"'E difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o País. Pouco depois da "redentora", cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem "otoridades, sentindo a oportunidade de aparecer [...]". Com estas imortais palavras Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sergio Porto) abria o livro "FEBEAPA", retroativamente renomeado para "FEBEAPA 1", com o lançamento dos volumes 2 e 3 nos anos seguintes. "FEBEAPÁ 1, 2 e 3" agrupa as três obras em um único livro.
Os dois primeiros volumes seguem a mesma estrutura, contendo duas partes. A primeira é um apanhado comentado de notícias reais (recolhidos pela fictícia "Pretapress" e pelos leitores) das contribuições de cocorocas e "otoridades" ao FEBEAPA. A segunda contém crônicas curtas, tendo como pano de fundo a situação no país (particularmente o Rio de Janeiro). O terceiro volume é dividido em mais partes, mas as suas fontes são as mesmas.
O trecho inicial dá uma boa ideia do estilo de Stanislaw, com uma prosa sofisticada e recheada de gírias (parte delas possivelmente criadas por ele próprio). Os relatos estão mais para o tragicômico do que para o cômico.
Como o posfácio de Berenice Cavalcante destaca, os textos tem (além do lado divertido) uma grande importância histórica. Lançados em 66, 67 e 68, mostram o Brasil no início da ditadura militar instituída pela "redentora revolução" de 64. Sergio Porto morreu antes do endurecimento do regime, mas a crônica "A Solução" mostra por um ângulo muito especial os embates entre a polícia e os estudantes.
Mas o valor histórico não se limita ao lado político. É também uma época de mudanças de gostos e costumes, com as minissaias, o rock-and-roll, a ascensão da TV (que Stanislaw chama de máquina de fazer doido) e todas estas bossas que encantavam uns e escandalizavam outros. E existe ainda o dia-a-dia das pessoas, preocupadas com baixos salários, inflação crescente, transporte público ruim, falta de água e racionamento de energia elétrica.
O livro possui fartas ilustrações de Jaguar. Não é exatamente o meu estilo de arte, mas quebra a monotonia de um livro só com texto.
Veredito
Imperdível (a não ser que você seja um cocoroca).
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