domingo, agosto 12, 2012

Crítica: Mickey Mouse - "Race to Death Valley"

A Disney começou com as animações curtas do Mickey. Entretanto, na parte de quadrinhos muito mais se fala do Pato Donald e família. E, francamente, os quadrinhos atuais do Mickey não me atraem.

Entretanto, a Fantagraphics Books lançou no ano passado os primeiros volumes de uma coleção que resgata o início dos quadrinhos do Mickey, na forma de tiras diárias. Comento aqui o primeiro volume, "Race to Death Valley".



Assim como os quadrinhos do Pato Donald estão atrelados ao nome Carl Barks, os do Mickey estão ligados a Floyd Gottfredson.

Quando Floyd foi procurar um emprego na Disney, em 1929, seu interesse era fazer tiras para jornal. Entretanto, Walt o contratou inbetweener - desenhista dos estágios intermediários das animações. Como consolo ele era o desenhista reserva da tira do Mickey, mas parecia improvavél que ele viesse a assumir esta posição.  Alguns meses antes a King Features tinha procurado a Disney solicitando tiras diárias do Mickey. Fazer tiras diárias era uma das aspirações de Walt Disney, que assumiu a redação. Os desenhos estavam a par de Ub Iwerks, responsável pelo aspecto original do Mickey e pelos desenhos nas primeiras animações. Uma terceira pessoa, Win Smith, fazia o acabamento dos desenhos a lápis de Iwerks.

Após muito anúncio, a tira iniciou em 13 de janeiro de 1930, com a aventura "Lost on a Desert Island" (presente como "extra" no final do livro). Neste começo o roteiro é bastante tênue, é mais uma sucessão de gags. Estamos também longe do Mickey politicamente correto dos dias de hoje, com violência física, maus-tratos a animais, armas de fogo e estereótipos que hoje julgamos racistas. Isto começaria a mudar em março, quando a King Features solicitou que a tira passasse a ser uma aventura contínua.

Mais ou menos nesta época Iwerks saiu da Disney para abrir o seu próprio estúdio de animação e Win assumiu totalmente os desenhos. Estando cada vez mais ocupado com outras coisas, Walt pediu para Win assumir também o roteiro. A reação de Win foi explosiva - pediu as contas.

Walt foi então falar com o reserva. Floyd estava estava bem feliz como animador mas acabou concordando em assumir a tira por duas semanas enquanto Walt contratava outro desenhista. A assunto nunca mais foi conversado e Floyd continuou desenhando Mickey por 45 anos, até se aposentar em 1975.

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As primeiras histórias de Mickey são totalmente diferente do que temos hoje. O roteiro ainda é um pouco solto, com gags isoladas surgindo com frequência. Várias vezes o primeiro quadrinho da tira traz um resumo do que aconteceu antes e o último possui uma chamada paraa tira seguinte. Mickey mora no campo (talvez "na roça" seja mais apropriado) e está sempre "restrito financeiramente". Além da Minie, são companheiros das aventuras Horace Horsecollar (Horácio), Clarabelle Cow (Clarabela) e, mais para o final, Pluto.

Em "Race to Death Valley", Mickey e Minie tentam encontrar uma mina de ouro antes de Sylvester Shyster, o advogado corrupto. Shyster tem um comparsa idiota e brutamontes - Peglet Pete - uma versão primitiva do João Bafo-de-Onça.



Na história seguinte, "Mr Slicker and the Egg Robbers", Mickey enfrenta um concorrente nas atenções de Minie - o Slicker do título. Slicker é claramente um bandido - afinal é um espertinho que mora na cidade, o que mostra a visão rural do Mickey da época. Quando Mickey pensa que Minie optou por Slicker, temos uma série de gags em torno... das tentativas de suicídio de Mickey, algo impensável atualmente. Temos também nesta história os pais da Minie, que estão indo à falência com o sumiço dos ovos da granja; a única solução parece ser o casamento de Minie com Slicker. É claro que ele é o responsável pelo sumiço dos ovos, com auxílio de uma pequena quadrilha. As investigações de Mickey o leva não somente a se infiltrar na quadrilha, mas até mesmo a se afeiçoar a eles. O aspecto (e parte da personalidade) de Slicker seria reaproveitado pelos italianos na criação do personagem "Ranulfo".


"Mickey Mouse vs Kat Nipp" é uma história curta e também politicamente incorreta. Começa com Mickey importunando o misterioso "Kat Nipp" e rapidamente passa para uma briga aberta entre os dois, centrada principalmente nos rabos dos openentes.

"Mickey Mouse, Boxing Champion" é bem curiosa. Começa com Mickey acidentalmente nocauteando várias vezes o campeão de "pesos leves-pesados" (ou seria "pesos pesados-leves"?), o que leva a ele passar a ser o seu treinador. O campeão é uma figuraça - um intelectual preguiçoso ("eu venço com um método super-científico de boxe ultra moderno"). Mas é claro que isto não vai adiantar muito contra o selvagem adversário.

Na história anterior reaparece um dos bandidos da gang de Slicker, o que leva diretamente a "High Society" onde Mickey assume a recuperação do bandido e a sua integração à alta sociedade. Isto resulta em uma curta sucessão de gags e trocadilhos em tom de crítica à sociedade das aparências.

"Circus Roustabout" e "Pluto the Pup" são estórias curtas sem maior roteiro. Isto é compensado em "Mickey Mouse and the Ransom Plot", uma estória mais longa com um roteiro mais afinado em torno do rapto da Minie por ciganos.

Fechando as história do primeiro volume, "Fireman Mickey" e "Clarabelle's Boarding House". Mickey tem uma breve atuação como bombeiro, mas não consegue impedir que a casa de Clarabela queime até o chão, o que a leva a abrir uma pensão (e a várias gags com os pensionistas). Como pano de fundo, temos as tentativas de Mickey em levar Horácio e Clarabela ao casamento.


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O livro é fisicamente impressionante, medindo 25,5 cm x 22,3 cm x 2,6 cm. A qualidade da impressão das tiras (em branco e preto) é excelente. Além das histórias, contém uma grande quantidade de artigos, entrevistas e imagens.

Para economizar no frete, comprei na Amazon a caixa com os dois primeiros volumes.

Veredito

Fortemente recomendado.

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