Já esperada há alguns anos, saiu finalmente a notícia do encerramento da fabricação e venda da família SPT. Ainda tenho as pastas que eu montei em 1998, quando foi anunciado o SPT-1500 e tomei contato com a plataforma Palm. De lá até uns dois anos atrás, muito do meu trabalho envolvia esta plataforma. Aliás, foi só eu começar a escrever este post para vendermos mais umas cópias de um software feito para o SPT.
A Família SPT
A Symbol é um dos principais fabricantes de leitores de código de barras (scanners) e coletores portáteis de dados. Em 98 ela teve a idéia de criar um coletor baseado no recem lançado Palm III, que estava finalmente criando a categoria de Personal Digital Assistent (PDA), após alguns fracassos notáveis como o Newton da Apple.
O SPT-1500 consistia no hardware do Palm III (a mesma placa) acrescentado de um leitor de código de barras. Embora as características de hardware pareçam modestas nos dias de hoje (processador de 16 bits operando a 8MHz, 2MBytes de Ram, baterias não recarregáveis) o SPT-1500 possuia desempenho suficiente e um bom leitor de código de barras para aplicações de coletas de dados em um formato pequeno e leve e por um preço baixo (para o mercado de coletores de dados). A principal restrição do SPT-1500 era a baixa robustez; a solução da Symbol foi uma capa de borracha especial. O SPT-1500 era atraente principalmente para os mercados mais sensíveis a preço, como o brasileiro.
No ano seguinte foi lançado o SPT-1700, que era um reprojeto do hardware para obter a robustez esperada de um coletor (resistência a quedas de até 1,2m e operação de -20 a 50 graus C). Além disso, a linha SPT-17xx incluia modelos com rádio padrão 802.11 e CDPD.
Alguns anos mais tarde o SPT-1500 e os SPT-17xx foram substituídos pelos SPT-1550 e SPT-18xx, que utilizam processadores um pouco mais rápidos e uma versão mais recente do PalmOS
A Ascenção e Queda da Plataforma Palm
Após uma tentativa mal-sucedida em conjunto com a Casio, a Palm Computing lançou em 96 os primeiros modelos, chamados de Pilot 500 e Pilot 1000. No ano seguinte foram lançados o PalmPilot Personal e o PalmPilot Professional (que dispunha de um stack TCP/IP para uso com modem). Em 98 foi lançado o Palm III (as mudanças no nome se devem a um processo da empresa Pilot que fabrica canetas).
O Palm III acrescentou uma interface infra-vermelha e foi um grande sucesso. Os motivos principais foram o formato, a resposta rápida, uma grande facilidade de operação, um reconhecimento de escrita confiável, um esquema de sincronismo com PC quase que transparente, uma imensa autonomia com baterias palito e um imensa quantidade de softwares.
A plataforma Palm usa o seu próprio sistema operacional, o PalmOS. O objetivo original era ter um sistema compacto e eficiente. Por exemplo, a função de leitura de arquivos (databases na terminologia da Palm) retorna um ponteiro para a posição da Ram onde o registro está e o código dos programas era executado diretamente na posição onde estava armazenado. A parte da memória onde ficam os databases é protegida pelo hardware, evitando que um ponteiro perdido os danifique. Aliás, o PalmOS era extremamente robusto e mensagens de erro e reset era raro para quem usava apenas as aplicações pré-instaladas (para quem desenvolvia era um pouco diferente, mas acho que nunca me ocorreu de perder um database). A maior parte das funções do PalmOS eram de manipulação da interface com o usuário. O núcleo em si do sistema foi licenciado de outra empresa. Embora este núcleo fosse multi-tarefa, o contrato impedia a Palm de expor para as aplicações as funções de manipulação de tarefas (ou seja, a aplicação era composta de uma única tarefa).
Uma das minhas surpresas ao aprender a programar para o PalmOS foi descobrir o que acontecia quando se chaveava de uma aplicação para outra: a aplicação anterior encerrava e a nova era executada. Cabia à aplicação salvar o seu contexto e restaurá-lo para dar uma experiência semelhante ao Alt Tab no Windows. Apesar disto, o chaveamento era muito rápido.
Do ponto de vista da interface com o usuário, a Palm sempre considerou que as soluções usadas no desktop não são apropriadas para os equipamentos portáteis, com telas pequenas e operados com uma caneta. Por exemplo, não existe o "duplo tap" e as aplicações (e a maioria das janelas) sempre ocupam toda a tela.
Tentando evitar a situação da Apple com o Mac, a Palm licenciou o PalmOS para outras empresas, como Sony, Samsung e Symbol. Estas empresas tinham grande liberdade para alterar a plataforma, criando produtos bastante diferenciados.
A Microsoft concorreu com a Palm desde quase o início, porém sua linha foi outra. Ao invés de um sistema compacto, investiu em um sistema mais completo que suportasse um subconjunto da API do Windows. A Microsoft especificou em detalhes a plataforma, não permitindo grandes variações entre os produtos. A primeira geração, chamada de Palm-sized PC, sofria para rodar em um processador RISC a 133MHz com 16M de Ram. Era comum você ver a tela se desenhar aos poucos. A bateria durava poucos dias. A interface com o operador tentava seguir o padrão do Windows no desktop (e até hoje se usa o "duplo tap").
Mais uma vez a Microsoft apostava suas fichas na Lei de Moore. Animada com o sucesso, a Palm acabou apostando contra. Por exemplo, a Microsoft adotou cedo as telas coloridas, a Palm insistia em que eram inúteis e que consumiam muita bateria. Em 2000 a Microsoft lançou o Pocket PC e encostou. Vieram depois o Pocket PC 2002 e o Windows Mobile. No lado do hardware veio o StrongArm e os 64M de Ram.
A Palm teve também uma história turbulenta como empresa. Antes de conseguir o sucesso com o Palm III os fundadores a venderam para a U.S. Robotics (por falta de recursos financeiros), que logo depois foi comprada pela 3Com. Embora tudo parecesse maravilhoso, os fundadores sairam da Palm para criar uma outra empresa, a Handspring, que licenciou o PalmOS e passou a competir com a Palm. Mais adiante a 3Com decidiu separar a Palm, que posteriormente se desmembrou em uma empresa de hardware e uma empresa de software (PalmSource). A empresa de hardware veio a se juntar à Handspring, com o nome de PalmOne.
Durante todas estas mudanças coorporativas, o PalmOS pouco avançou. O Palm III utilizava o PalmOS 3. A versão 4 tentou unificar os vários aperfeiçoamentos criados independentemente pelos licenciados. Pelo menos duas tentativas de criar um novo sistema fracassaram. A primeira não chegou a ser liberada e nenhuma equipamento foi produzido com a segunda. Pressionada pela falta de competitividade do processador original, a PalmSource seguiu o caminho do Mac e migrou para uma plataforma RISC emulando por software o processador original (com muito sucesso). Os equipamentos PalmOS atualmente em produção utilizam esta versão.
Finalmente, no final de 2005, a PalmSource foi comprada por uma empresa japonesa (Access). Algum tempo depois foi anunciado o fim do PalmOS como sistema operacional: os esforços agora para colocar a interface do PalmOS sobre um núcleo baseado no Linux. A PalmOne voltou a ser Palm e tem concentrado os novos desenvolvimentos em smartphones, inclusive modelos usando Windows CE.
É uma pena, pois a Palm era uma grande empresa, criou produtos inovadores e a concorrência com a Microsoft foi certamente benéfica para os usuários.
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